Trabalhos publicados no III Congresso Catarinense de Pneumologia
- Hudson Silva
- 29 de out.
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Veja os trabalhos publicados no III Congresso Catarinense de Pneumologia e II Simpósio Catarinense de Oncologia Torácica
Análise epidemiológica da mortalidade por embolia pulmonar em Santa Catarina: uma série temporal de 10 anos
Pilar Rodrigues Couto, Wagner de Almeida Soares (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Kateryn Fernandez (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Jamile Moura Braga (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Isabela Andrighetto (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Lucas Almeida Soares (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Pilar Rodrigues Couto (Médica Pneumologista Pediátrica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)
INTRODUÇÃO: A embolia pulmonar (EP) é a obstrução de uma artéria pulmonar, sendo a manifestação mais grave do tromboembolismo venoso e a terceira causa mais comum de mortalidade cardiovascular aguda.¹ Sua letalidade é elevada, podendo atingir 30% em casos não tratados, mas o diagnóstico e a terapia precoces reduzem drasticamente esse risco.¹ Estudos nacionais sobre a tendência da mortalidade são escassos e por vezes conflitantes, e uma análise prévia em Santa Catarina já indicava uma tendência de aumento.²
OBJETIVO: Descrever o perfil de mortalidade e analisar a tendência temporal de óbitos por Embolia pulmonar na população do estado de Santa Catarina entre 2013 e 2023.
METODOLOGIA:Trata-se de um estudo transversal e de série temporal, baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A pesquisa analisou as notificações de óbitos por embolia pulmonar na população de Santa Catarina entre os anos 2013-2023, considerando variáveis como total de óbitos por ano, sexo, faixa etária, escolaridade, local de ocorrência e etnia. A análise foi feita por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS:Entre 2013 e 2023, foram registrados 3.298 óbitos. Os anos de 2021 e 2022 tiveram os maiores índices de mortalidade, com 441 óbitos (13,37%) e 425 óbitos (12,88%), respectivamente. De 2019 a 2022, houve um aumento de 20,40 % dos óbitos. A maioria das vítimas era de etnia branca (90,23%) e do sexo feminino (58,36%). População idosa (com 60 anos ou mais) foram os mais afetados (71,28%), especialmente na faixa de 80 anos ou mais (34,34%). Criciúma liderou o número de óbitos (18,13%), seguido por Joinville (5,48%) e Içara (4,54%). A mortalidade foi maior entre pessoas com Fundamental II incompleto (40,57%) e menor entre as com ensino médio completo ou superior (5,88%). O hospital foi o local mais comum dos óbitos (51,66%), seguido por domicílio (37,02%).
CONCLUSÃO:Observou-se que a taxa de mortalidade por embolia pulmonar em Santa Catarina entre os 2013 e 2023 teve um crescimento significativo, sobretudo entre 2019 e 2022. Os óbitos foram mais prevalentes em mulheres, idosos, pessoas brancas e com menor escolaridade, demonstrando a influência dos fatores socio demográficos. Grande parte das mortes ocorreu no âmbito hospitalar, o que evidencia os desafios do diagnóstico precoce e manejo oportuno. Assim, torna-se necessário a implementação de medidas estratégicas para prevenção e cuidado direcionado aos grupos mais vulneráveis.
Associação rara de malformação adenomatoide cística e sequestro pulmonar em criança: relato de caso
Pilar Rodrigues Couto, Hugo Barbosa Alencar (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Wagner de Almeida Soares (Graduação de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina.), Pilar Rodrigues Couto (Médica Pneumologista Pediátrica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)
Introdução: A malformação adenomatoide cística (MAC) é uma anomalia congênita rara do parênquima pulmonar, caracterizada pela substituição do tecido normal por cistos de tamanhos variados. O sequestro pulmonar é um tecido pulmonar não funcional, sem comunicação com a árvore brônquica e irrigado por vasos sistêmicos anômalos. A coexistência de ambas é incomum e requer diagnóstico preciso para evitar complicações.
OBJETIVO: Relatar um caso pediátrico de MAC associada a sequestro pulmonar diagnosticado por angiotomografia.
RELATO DE CASO: Paciente masculino, 3 anos e 10 meses, nascido a termo, previamente hígido. Aos 2 anos, após início em creche, apresentou otite média de repetição, necessitando tubo de ventilação. Posteriormente, foi diagnosticado com asma e tratado com CI+ LABA com bom controle inicial. Em maio de 2025, apresentou crise asmática associada a pneumonia; radiografia mostrou imagem sugestiva de pneumatocele em pulmão direito. Tratado com antibioticoterapia e encaminhado para ambulatório de Pneumologia Pediátrica para investigação. Na avaliação pneumológica, mantinha bom estado geral, ausculta limpa, eupneico e deformidade em hemitórax direito. Realizada investigação com angiotomografia de tórax que revelou: sequestro pulmonar no lobo inferior direito, predominantemente nos segmentos basal posterior e lateral, com lesão sólida e cística irrigada por vaso calibroso anômalo proveniente da aorta abdominal. Encaminhado para cirurgia torácica.
CONCLUSÃO: As malformações pulmonares congênitas devem ser lembradas no diagnóstico diferencial de crianças com quadros respiratórios recorrentes, mesmo diante de aparente boa resposta ao tratamento para asma. Sinais de alerta, como infecções no mesmo segmento pulmonar, achados radiológicos atípicos (ex.: pneumatocele) ou alterações no exame físico (ex.: deformidade torácica), devem motivar investigação detalhada. A associação de malformação adenomatoide cística e sequestro pulmonar, embora rara, requer abordagem diagnóstica precisa, sendo a angiotomografia de tórax o exame de escolha para caracterizar a lesão, identificar irrigação anômala e orientar o planejamento cirúrgico. A intervenção adequada permite tratamento curativo e previne complicações futuras.
Função pulmonar e estado nutricional de escolares com fibrose cística antes e após a terapia de modulação genética
Greicy da Silva (UDESC - Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina), Juliana Cardoso (UDESC CEFID), Thaise Helena Cadorin (UDESC CEFID), Camila Isabel Santos Schivinski (UDESC CEFID)
Introdução: o comprometimento da função pulmonar (FP) em indivíduos com fibrose cística (FC), influenciado pelo estado nutricional (EN) e agravado por episódios de exacerbação pulmonar aguda (EPA), é a principal causa de morbidade na doença. A terapia de modulação genética (TMG) tem favorecido esses desfechos, sendo essencial monitorá-los. Objetivo: avaliar FP, EN e EPA de escolares com FC antes e após uso de TMG. Método: estudo observacional longitudinal (CAAE 80800217.4.0000.5361), conduzido em um centro de referência entre os anos de 2023 e 2025. Participaram escolares com FC, de 6 a 14 anos, avaliados antes e após de ≥6 meses de tratamento com TMG. A EPA foi controlada pelas escalas Cystic Fibrosis Clinical Score (CFCS) e Cystic Fibrosis Foundation Score (CFFS). Classificou-se o EN pelo Índice de Massa Corporal (IMC) segundo a BVS - Calculadora do Ministério da Saúde. Dados do genótipo foram obtidos em prontuário multiprofissional. A FP foi avaliada em exame de espirometria e considerou-se os parâmetros, em valores absolutos e porcentagem predita: capacidade vital forçada(CVF); volume expiratório forçado no primeiro segundo(VEF1); relação VEF1/CVF; pico de fluxo expiratório (PFE); fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da CVF(FEF25-75). Utilizou-se o software Statistical Package for the Social Sciences(SPSS) versão 20.0 e aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para verificação da distribuição dos dados. Para comparação dos desfechos antes(1) e após TMG(2), realizou-se Teste T pareado ou teste Wilcoxon (p <0,05). Resultados: participaram 19 escolares, sendo 57,9% ΔF508 homozigoto e 42,1% heterozigoto; 52,6% meninos. Antes e após(1x2) uma média de 8,37±2,36 meses de TMG, os escolares apresentaram os seguintes dados: média de idade 10,05±2,36 x 11±2,3 anos; IMC 17,3+-2,1 (baixo peso 10,5%, eutrófico 84,2% e sobrepeso 5,3%) x 18,3+-2,8 (eutrófico 89,5%, sobrepeso 5,3%, obesidade 5,3%) p<0,001. Escalas de EPA CFCS: 18,1±4,9 x 14,6±4,1; CFFS: 1,3±1,6 x 0,47±1,6. Houve alteração significativa em todos os parâmetros da FP 1x2 (p<0,05): CVF: 2,13±0,95 e 2,61±1,11; VEF1:1,65±0,84 x 2,17±1,06; VEF1/CVF: 0,74±0,11 x 0,8±0,1; PFE: 216,86±122,01 x 272,66±161,53; FEF25-75: 1,58±1,35 x 2,32±1,59; CVF%:88±19 x 99,8±21; VEF1%: 72,2±22,2 e 88,6±24,8; VEF1/CVF%: 87,4±12,6 x 87,4±11,1; PFE%:67,9±26,7 x 78±35,1; FEF25-75%:56,5±38,5 x 76,4±43,2. Conclusão: houve melhora na FP, mudança no EN e redução na pontuação das escalas de EPA em escolares com FC com o uso da TMG.
Internações por Bronquite Aguda e Bronquiolite Aguda em Crianças e Adolescentes em Santa Catarina (2018–2025)
Martina Werner Siebert (Estudante), Ana Júlia Graf (Unifebe), Giovana Busnardo Voltolini (Unifebe), Giovanna Marchetti (Unifebe), Beatriz Luana Baratter do Carmo (Unifebe), Pedro Carrión Carvalho (Unifebe), Rodrigo Kerber (Unifebe)
A bronquite aguda e a bronquiolite aguda são doenças inflamatórias do trato respiratório que acometem, respectivamente, os brônquios e os bronquíolos. Em crianças, essas condições apresentam risco elevado de evolução grave, podendo culminar em óbito. O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico das internações por bronquite aguda e bronquiolite aguda em crianças e adolescentes de 0 a 14 anos no estado de Santa Catarina, considerando variáveis demográficas e regionais. Trata-se de estudo ecológico, retrospectivo e descritivo, realizado a partir de dados públicos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), obtidos por meio do DATASUS. Foram incluídas internações registradas entre janeiro de 2018 e junho de 2025, estratificadas por ano, sexo, faixa etária, raça/cor e macrorregião de residência. No período, foram registradas 19.375 internações, com 1.642 em 2018, aumento discreto em 2019 (+5,36%) e queda acentuada em 2020, com apenas 302 casos (−82,54%). A partir de 2021, observou-se crescimento progressivo, atingindo 2.035 casos, seguido por 3.227 em 2022, 4.381 em 2023 (pico da série), e 4.167 em 2024, com redução de 5% em relação ao ano anterior. Até junho de 2025, contabilizaram-se 1.819 casos. A Grande Florianópolis concentrou o maior número absoluto (4.371; 22,56%), seguida pela região Nordeste (3.188; 16,45%) e Carbonífera (2.029; 10,47%). Em relação à raça/cor, a população branca respondeu por 84,42% das internações, seguida pela parda (8,71%) e preta (2,75%). O sexo masculino apresentou predominância em todo o período, com 11.330 casos (58,47%) contra 8.045 (41,52%) no sexo feminino. O teste do qui-quadrado demonstrou associação estatisticamente significativa entre ano, sexo e raça/cor com as internações (p < 0,001). Conclui-se que a bronquite aguda e a bronquiolite aguda representam importante causa de morbidade pediátrica em Santa Catarina, com predomínio em meninos, população branca e na faixa etária de 0 a 4 anos, sendo a pandemia de COVID-19 responsável pela redução abrupta em 2020. Os achados reforçam a necessidade de vigilância epidemiológica e políticas públicas voltadas à prevenção e manejo adequado dessas condições.
Perfil Epidemiológico da Mortalidade por Bronquite Aguda e Bronquiolite Aguda na Região Sul do Brasil (2015-2025)
Ana Julia Graf (UNIFEBE), Martina Werner Siebert (UNIFEBE), João Vitor Bittencourt Venera (UNIFEBE), Guilherme José Rosa (UNIFEBE), Melissa Becker Trois (UNIFEBE), Luiza Davidoff (UNIFEBE), Rodrigo Kerber (UNIFEBE)
A bronquite aguda e a bronquiolite aguda são causas frequentes de atendimento pediátrico em emergências, sobretudo em idosos e lactentes, destacando-se como a principal causa de hospitalização nesse grupo, especialmente durante os meses de inverno. Essas condições apresentam ampla variabilidade clínica, desde quadros leves até insuficiência respiratória grave. A compreensão de seus aspectos epidemiológicos e clínicos mostra-se fundamental para orientar estratégias preventivas e aprimorar intervenções terapêuticas baseadas em evidências. Trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, com delineamento de séries temporais e abordagem quantitativa descritiva, realizado com dados secundários provenientes do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), acessado por meio da plataforma TABNET, do Departamento de Informática do SUS (DATASUS).
Do total de óbitos no período de 2020 a 2025 na região Sul, totalizou-se 564 registros, evidenciando o maior número de casos no estado do Rio Grande do Sul, com 313 óbitos. Seguido de Santa Catarina (149 óbitos) e por último o estado do Paraná (102 óbitos). Todas as regiões apresentaram queda nas internações em 2020, com posterior aumento nos anos seguintes. Abrangendo a faixa etária, o maior número se concentra nos extremos de idade. Na faixa etária de 80 anos e mais, foram registrados 142 óbitos. Seguido pelos menores de 1 ano (130 registros). As demais idades não apresentam tamanha discrepância. No que tange ao sexo, há pouca disparidade nos óbitos entre homens (277) e mulheres (287), essa constante manteve-se ano após ano no recorte estudado. Em relação a raça nos óbitos por bronquite aguda e bronquiolite aguda, encontrou-se a liderança de brancos (452 mortes), em seguida, com grande queda nos números, ficam pardos (42 mortes). Na sequência, há um pequeno número de 17 óbitos de pretos, 2 óbitos de amarelos e 3 óbitos de indígenas. Vale ressaltar que amarelos e indígenas na grande parte dos anos analisados não foram registrados falecimentos pelas patologias em questão, enquanto brancos e pardos, em todos os anos foram notificados. Conclui-se que a bronquite aguda e a bronquiolite aguda continuam sendo causas relevantes de mortalidade, especialmente em lactentes e idosos. Houve maior concentração de óbitos no Rio Grande do Sul e em indivíduos brancos, com distribuição equilibrada entre os sexos. Reforça-se a relevância de políticas de prevenção e manejo direcionadas às populações de maior risco.
Perfil farmacológico da população pediátrica com hipertensão pulmonar secundária a cardiopatias congênitas no Paraná
Lucas Cesar Perin Guimarães, Betânia Zulian de Lima (Universidade Federal do Paraná), João Adriano de Barros (Universidade Federal do Paraná)
Introdução: Hipertensão pulmonar (HP) é uma condição resultante da elevação da pressão sanguínea nas artérias pulmonares, podendo ser secundária a cardiopatias congênitas. O perfil farmacoepidemiológico dessa doença na população pediátrica permanece incerto no Brasil. Objetivo: Caracterizar o perfil farmacológico de pacientes pediátricos com HP secundária a cardiopatias congênitas, com a finalidade de investigar possíveis fatores de risco e guiar futuros protocolos clínicos. Métodos: Estudo transversal que incluiu 67 pacientes menores de 18 anos em protocolo clínico de tratamento para HP secundária a cardiopatias congênitas em serviço público de fornecimento de medicamentos no Paraná entre 2011 e 2023. As variáveis quantitativas e categóricas foram submetidas a análises estatísticas utilizando-se o software IBM SPSS, com significância estatística definida em p<0,05. Resultados: Ao total, 34 (50,75%) pacientes eram do sexo masculino e 33 (49,25%) do sexo feminino. A média de idade da amostra foi de 10,84 ± 3,63. Entre os medicamentos, a sildenafila 20 mg foi a mais prescrita, sendo utilizada por 32 (47,76%) pacientes, seguida da bosentana 62,5mg (44,78%) e bosentana 125mg (7,46%). A totalidade da amostra recebia apenas um medicamento. Não houve diferença estatisticamente significativa entre variáveis sexo e idade e a ocorrência de terapia combinada. Conclusão: Os dados evidenciam a predominância do sexo masculino e faixa etária média de 10,84 anos. A sildenafila destacou-se como o medicamento mais prescrito e a totalidade dos pacientes fazia uso de apenas um fármaco.
Acometimento Pulmonar em Paciente Jovem Portador de Neurofibromatose: Relato de Caso
Beatriz Lima Carpilovsky, Pedro Henrique Redin Borgo (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Heloisa Rosskamp Alberton (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Miguel Garcia Grupelli (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Luis Fernando Spinelli (Hospital Dia do Pulmão), Marina Frandoloso (Hospital Dia do Pulmão), Marina Andrade Lima (Hospital Dia do Pulmão)
As neurofibromatoses são doenças genéticas multissistêmicas, acometendo principalmente pele e sistema nervoso. Portadores apresentam expectativa de vida reduzida em 8 a 15 anos, sendo a principal causa de morte antes dos 30 anos neoplasias malignas do tecido nervoso.
Masculino, 20 anos, portador de neurofibromatose, siringomielia e hipotireoidismo. Histórico de retirada de tumoração maligna da bainha do nervo periférico em coxa esquerda em maio/24. Queixa de tosse produtiva e febre, início duas semanas após a retirada. Apresentava-se com murmúrio vesicular abolido em base pulmonar direita. Rx de tórax evidenciou derrame pleural volumoso à direita. Tratado empiricamente com azitromicina e amoxicilina/clavulanato. Diante da falha terapêutica, foram levantadas hipóteses de tuberculose pleural ou linfoma. Tomografia computadorizada (TC) de tórax revelou espessamento nodular pleural à direita, comprometendo pleura mediastinal, além de volumoso derrame pleural, atelectasia total do LID e parcial do LSD, com múltiplas linfonodomegalias mediastinais e axilares.
Pleuroscopia identificou nodulações em pulmão e pleura parietal. Realizada pleurodese à direita. Histopatológico demonstrou neoplasia maligna fusocelular de alto grau e fibrina pleural com material necrótico. Pensou-se em doença metastática na pleura relacionada ao histórico da neoplasia. Nova TC de tórax demonstrou grande redução do derrame pleural, porém persistência do extenso espessamento pleural nodular à direita. Com reexpansão parcial do pulmão direito - persistindo atelectasias -, surgiu opacidade consolidativa com discreto halo fosco periférico no LSE subpleural. Recebeu alta hospitalar com levofloxacino e posterior acompanhamento ambulatorial.
O acometimento pulmonar pela neurofibromatose é raro e pouco discutido na literatura: no relato, o paciente apresentava quase toda a pleura acometida por nodulações. Outra raridade associada à neurofibromatose é o tumor maligno da bainha do nervo periférico, um tipo de sarcoma de partes moles. Em portadores de neurofibromatose tipo 1, a chance de desenvolver este tumor é de 8 a 13%. O diagnóstico é por histopatologia e tratado com excisão e radioterapia adjuvante. Cabe a esses pacientes acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, atentos a possíveis metástases.
Adenocarcinoma Pulmonar Metastático com Inserção de Exon 20 do EGFR em uso de Amivantamabe e Pemetrexede: Relato de Caso
Rafael Da Ré de Souza (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Helena Ferreira Demétrio (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Eduarda Müller de Souza (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Gabriel Pereira da Silveira (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Maria Luiza Cichella Maccarini (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Leticia da Silveira Ugioni (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense)
INTRODUÇÃO
O Adenocarcinoma de pulmão é o principal subtipo dos cânceres de células não pequenas (NSCLC)¹, o câncer de pulmão mais prevalente². Dentre as suas principais mutações, estão as alterações que codificam o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR)³, sendo a inserção no exon 20 a com maior resistência às terapias direcionadas4,5. Este relato de caso apresenta, de forma retrospectiva um paciente com adenocarcinoma pulmonar metastático portador dessa mutação, tratado com imunomodulador e quimioterapia à base de platina, descrevendo evolução clínica, apresentação e conduta, dada a relevância do diagnóstico molecular para manejo adequado.
RELATO DE CASO
Homem, 62 anos, tabagista ativo 25 maços/ano, sem demais comorbidades. Procurou atendimento em 01/ 2025 por tosse seca há 7 dias e emagrecimento discreto nos últimos meses, sem outros sintomas. Tomografia de tórax mostrou inúmeros nódulos pulmonares periféricos comprometendo difusamente todos os lobos, linfonodomegalia metastática mediastinal e peri-hilar bilateral, além de lesão osteolítica em L2. Anatomopatológico com imuno-histoquímica confirmou adenocarcinoma primário de pulmão com mutações EGFR exon 20, TP53, MED12 e RB1. Em 02/2025 iniciou amivantamabe associado a pemetrexede e quimioterapia à base de platina. Após quatro meses, relatou melhora completa dos sintomas e tomografia evidenciou redução significativa das lesões metastáticas.
DISCUSSÃO
Mutações no EGFR induzem a formação de complexos proteicos capazes de ativar vias oncogênicas6. Aproximadamente 30% dos NSCLC apresentam alteração no EGFR7 e as inserções no exon 20 representam 1-10% delas, caracterizando resistência aos inibidores de tirosina quinase e limitando as opções terapêuticas8,9. Uma possível alternativa é o amivantamabe, anticorpo biespecífico capaz de atingir o EGFR e o Met RTK, contornando os mecanismos de resistência10. O amivantamabe associado com a quimioterapia demonstrou uma sobrevida livre de progressão maior do que nos pacientes que realizaram apenas quimioterapia, sendo um tratamento eficaz nos pacientes com NSCLC avançado com inserções no exon 20¹¹. No caso descrito, a identificação da mutação EGFR exon 20 direcionou a escolha do tratamento, resultando em expressiva resposta radiológica e melhora clínica. O relato reforça a importância da análise molecular no adenocarcinoma pulmonar para personalizar a terapêutica, otimizar o prognóstico e melhorar a qualidade de vida.
Análise de doenças respiratórias em grupo de tabagistas em uma Unidade Básica de Saúde: Um relato de experiência
Amanda Tabita da Silva (UNIFEBE - Centro Universitário de Brusque), Ana Clara Marques Saibert (Unifebe), Gabriela Camile dos Santos (Unifebe), Érica Rodrigues Freire (Unifebe)
Introdução: A associação entre asma e tabagismo resulta em maior morbidade, pior controle sintomático e resposta reduzida à terapia, destacando a necessidade de estratégias de saúde pública prioritárias que envolvam cessação do tabagismo, proteção contra a exposição passiva e atendimento especializado para melhorar o desfecho clínico dos pacientes asmáticos.
Objetivo: Relatar a experiência de acompanhamento de pacientes com diagnóstico de doenças respiratórias, sendo a principal patologia a asma, de um grupo de tabagismo, em uma Unidade Básica de Saúde, junto à enfermeira responsável, descrevendo as ações realizadas, as orientações fornecidas e a abordagem multiprofissional empregada, com foco na promoção da saúde, controle da doença e incentivo à cessação do tabagismo.
Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, de abordagem qualitativa e caráter descritivo, desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde do município de Brusque (SC). A experiência foi vivenciada por uma equipe de enfermagem, com a participação de estudantes de medicina, no contexto de atividades voltadas ao acompanhamento de usuários com doenças respiratórias crônicas, incluindo a asma, e que mantêm o hábito de fumar.
Resultados: Durante as atividades de um grupo voltado para tabagistas, foi possível observar a realidade de usuários com diagnóstico de doenças respiratórias crônicas, sendo a principal a asma, e a influência de hábitos como o tabagismo no controle da doença.
O acompanhamento evidenciou que, a cessação do tabagismo pode ser dificultada por fatores emocionais e ambientais. Identificaram-se como principais barreiras para o controle da doença a baixa adesão ao tratamento medicamentoso e a persistência do hábito de fumar. Entre as estratégias adotadas pela equipe de enfermagem e estudantes de medicina, destacaram-se a escuta ativa, a comunicação empática e a realização de atividades educativas, visando ampliar o conhecimento dos usuários sobre sua condição e estimular mudanças de comportamento.
Conclusão: O acompanhamento de pacientes asmáticos fumantes em grupo de tabagismo evidenciou que a persistência do tabagismo comprometeu a adesão terapêutica e potencializou a gravidade dos sintomas. Essa vivência reforça a necessidade de uma abordagem crítica, na qual se reconheça que a educação em saúde isolada pode ser insuficiente para mudanças sustentáveis, sendo indispensável integrar suporte psicológico, acompanhamento multiprofissional e estratégias de motivação contínua.
Análise Epidemiológica dos Casos de Tuberculose na Região Sul do Brasil, entre os anos de 2013 e 2023
André Felipe Caldas Opilhar, Beatriz Sandrini Candemil (FURB), Beatriz Lima Carpilovsky (FURB), Letícia Dalcegio (FURB), Pedro Henrique Redin Borgo (FURB), Vinícius Brito Shiroma (FURB), Patrick Cardoso Candemil (HSI)
Introdução: A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa de alta
transmissibilidade, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, caracterizada
pela formação de granulomas, latência bacilar e possível cavitação pulmonar
(WHO, 2023). Apesar de curável, requer vigilância constante, sobretudo em
populações vulneráveis (Brasil, 2023). Na Região Sul do Brasil — Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul — sua distribuição é influenciada por
fatores socioeconômicos, condições climáticas, características demográficas,
maior proporção de idosos e ampla cobertura da Atenção Primária
(DATASUS, 2023).
Objetivos: Analisar o perfil epidemiológico da tuberculose na Região Sul,
entre 2013 e 2023, segundo sexo, faixa etária, manifestação clínica e
classificação da infecção, comparando os três estados.
Métodos: Estudo retrospectivo com base em dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), considerando variáveis
demográficas e clínicas, seguido de comparação regional.
Resultados: No período, registraram-se 125.316 casos de TB, concentrados
no Rio Grande do Sul (71.673; 6,5/1000 hab.), seguido de Paraná (28.764;
2,5/1000hab.) e Santa Catarina (24.879; 3,26/1000 hab.). O sexo masculino
predominou (69,1%, 70,7% e 68,2%). A faixa de 20 a 59 anos concentrou a
maioria (78,0%, 78,3% e 79,3%), seguida de 60 a 80 anos (15,0%, 15,1% e
13,1%) e de 0 a 19 anos (7,0%, 6,6% e 7,6%). A forma pulmonar foi a mais
frequente (82,3%, 82,5% e 81,2%), enquanto as extrapulmonares
corresponderam a 15,0%, 15,1% e 13,1%, e as mistas a 5,0%, 3,5% e 4,3%.
Entre as extrapulmonares, destacaram-se a pleural (6,5%, 6,2% e 7,5%),
ganglionar periférica (2,7%, 2,7% e 2,6%) e miliar (2,5%, 2,2% e 2,2%).
Formas menos prevalentes incluíram meningoencefálica (1,6%, 1,5% e
1,9%), óssea (0,8%, 1,0% e 0,8%), geniturinária (0,5%, 0,6% e 0,3%), ocular
(0,4%, 0,9% e 0,5%), cutânea (0,3% nos três estados) e laríngea (0,2,
PR/SC/RS). Observou-se padrão semelhante entre os estados, marcado pelo
predomínio masculino, adultos jovens e forma pulmonar.
Conclusão: A tuberculose manteve perfil homogêneo na Região Sul, com
maior incidência no Rio Grande do Sul, predominando em homens de 20 a 59
anos e na forma pulmonar. O aumento entre 2020 e 2023 reforça a
necessidade de pesquisas e de ações regionais voltadas à prevenção,
diagnóstico precoce e controle da doença.
Análise exploratória da celularidade do escarro em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e sobreposição asma-DPOC (ACO)
Flávia Del Castanhel (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Jhonata de Marco Vieira (Universidade Federal de Santa Catarina), Andria Machado da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Rosemeri Maurici da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina)
Introdução: A análise da celularidade do escarro tem se mostrado útil para caracterizar fenótipos inflamatórios em doenças respiratórias crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a sobreposição asma-DPOC (ACO). Identificar perfis celulares pode auxiliar na diferenciação entre esses subgrupos, especialmente quando os parâmetros clínicos se sobrepõem. Objetivo: descrever variáveis clínicas e funcionais, celularidade do escarro em pacientes com DPOC e com ACO e compará-la entre os grupos. Método: Estudo transversal com 25 pacientes atendidos em ambulatório especializado. Os participantes foram classificados em DPOC (n=13) e ACO (n=12), com base em critérios clínicos e espirométricos. Projeto de pesquisa aprovado pelo comitê de ética institucional e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Resultados: a amostra foi predominantemente feminina (60,0%), com idade mediana de 62 anos. Obstrução moderada e mais sintomas estiveram presentes em 50,0% e em 60,9% dos pacientes, respectivamente. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos quanto ao volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), (em litros e em %previsto), capacidade vital forçada (CVF), relação VEF1/CVF e resposta broncodilatadora. Além disso, não foram identificadas diferenças significantes entre os grupos em relação aos escores do Modified Medical Research Council (mMRC) e do COPD Assessment Test (CAT). Os resultados da análise do escarro demonstraram perfis semelhantes entre os grupos DPOC e ACO, sem diferenças estatisticamente significativas quanto às proporções de neutrófilos, macrófagos, linfócitos e células broncoepiteliais. Em relação aos eosinófilos, observou-se diferença significativa entre os grupos [χ2(1) = 5,159; p = 0,04], com presença detectada apenas no grupo ACO, ainda que a maioria desses pacientes também tenha apresentado contagem nula. Conclusão: neste estudo, a análise da celularidade do escarro evidenciou predominância do padrão paucigranulocítico, caracterizado por baixos percentuais de eosinófilos e neutrófilos. A escassez de dados prévios sobre a celularidade em ACO destaca a relevância desses achados preliminares, que reforçam o potencial da análise da celularidade do escarro como ferramenta complementar na investigação de fenótipos inflamatórios.
Arco venoso jugular e drenagem linfática cervical: achado cadavérico e implicações oncológicas
Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Maria Fernanda Tomazi Varela (FURB), Luiz Felipe Viafore Dubois (FURB), Mary Anne Pasta de Amorim (FURB)
O sistema venoso jugular, em íntima associação com a drenagem linfática cervical, é fundamental para compreender a propagação de processos inflamatórios e neoplásicos da região cervicotorácica. Apesar de sua relevância anatômica, o arco venoso jugular permanece pouco explorado na literatura clínica. A observação cadavérica dessa estrutura, associada a alterações inflamatórias pleurais, proporciona oportunidade singular de integrar anatomia, patologia e oncologia, permitindo refletir sobre mecanismos de disseminação metastática. Este estudo tem como objetivo descrever o arco venoso jugular em cadáver masculino adulto e discutir suas potenciais repercussões sobre a drenagem linfática cervical e a propagação tumoral. O achado foi realizado durante atividade prática de Anatomia Topográfica, mediante dissecação da região cervical e torácica, com inspeção sistemática dos sistemas venoso e linfático e análise macroscópica dos achados concomitantes. O arco venoso jugular foi identificado na região supraesternal, unindo as veias jugulares anteriores bilateralmente e conectando-se às veias jugular externa e interna, com drenagem final na veia subclávia. Essa disposição evidenciou a interdependência entre circulação venosa e linfática e sua proximidade com a cadeia jugular profunda. O achado concomitante de secreção pleural inflamatória sugere estímulo crônico ao sistema linfático, com potencial ativação de linfonodos cervicais. Clinicamente, os linfonodos jugulares internos e supraclaviculares são reconhecidos como sentinelas em tumores de pulmão, esôfago e vias aéreas superiores, o que confere a essa interconexão especial relevância oncológica. Conclui-se que a análise cadavérica do arco venoso jugular, associada a achados inflamatórios pleurais, reforça seu papel estratégico como via de propagação inflamatória e metastática. Tal observação destaca a importância do reconhecimento anatômico preciso dessa estrutura em abordagens cirúrgicas cervicais, fundamentais para o estadiamento tumoral e a segurança operatória. A integração entre dissecação anatômica, fisiopatologia e oncologia fortalece a formação médica e a visão crítica diante da complexidade da disseminação linfonodal.
Aspiração traqueobrônquica de corpo estranho após procedimento odontológico: um relato de caso
Ana Beatriz dos Santos Marcon, Alessandra Kozoris Dias (Universidade Federal de Santa Catarina), Ana Clara Flor da Costa (Universidade Federal de Santa Catarina), Gabriela Magalhães Grubert (Hospital Regional de São José), Leila John Marques Steidle (Universidade Federal de Santa Catarina)
A aspiração de corpo estranho para as vias aéreas é uma emergência potencialmente fatal, que pode levar a obstrução parcial ou completa do fluxo de ar. Esse tipo de acidente é mais prevalente em criança ou em adultos com fatores predisponentes, como distúrbios neurológicos, intoxicação por álcool ou medicamentos, anestesia ou doenças pulmonares prévias. A apresentação clínica depende do material aspirado, do grau de obstrução causado e do tempo que está presente na via aérea. Este relato descreve manifestações agudas da aspiração de corpo estranho após procedimento dentário. Paciente feminina, 58 anos, com diagnóstico prévio de asma e bronquiectasia por sequelas de tuberculose, procura unidade de emergência com quadro de dispneia e tosse súbita, após realizar procedimento odontológico na mesma manhã, em que relata que o profissional acidentalmente perdeu uma chave odontológica. Raio X de tórax revela corpo estranho em brônquio fonte à direita. Encaminhada ao serviço para avaliação da cirurgia torácica, sendo realizada broncofibroscopia para retirada da chave odontológica. Seguido do procedimento, sem necessidade de oxigenioterapia suplementar e ausência de broncoespasmo. Alta com amoxacilina-clavulanato e orientações em caso de piora. A aspiração de corpo estranho em adultos, embora infrequente, ainda configura um diagnóstico diferencial, principalmente quando não há o relato do evento, podendo ser subdiagnosticado. O quadro de dispneia e tosse súbita é inespecífico e mimetiza outras condições potencialmente fatais, como tromboembolismo pulmonar, pneumotórax espontâneo, edema de glote ou exacerbação de doenças pulmonares pré-existentes. No caso descrito, o diagnóstico foi facilitado pelo relato da paciente associado à identificação radiográfica do corpo estranho. Ressalta-se que a presença prévia de asma e bronquiectasia representa um fator de risco adicional, tanto para um fator confundidor no diagnóstico definitivo, como para complicações infecciosas após o evento. Em pacientes asmáticos, a presença de corpo estranho pode simular um broncoespasmo intenso, semelhante a uma crise grave. Esse caso evidencia a importância de manter o diagnóstico diferencial de aspiração de corpo estranho em adultos com início súbito de dispneia e tosse, sobretudo quando possuem doenças pulmonares prévias. Além disso, é de suma importância o tratamento precoce, visando a desobstrução da via e evitando complicações potencialmente fatais.
Associação entre sarcopenia e envelhecimento de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): um estudo clínico preliminar
Jhonata de Marco Vieira (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Flávia Del Castanhel (Núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas (NUPAIVA)), Andria Machado da Silva (Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas (PPGCM/UFSC)), Júlia Soares Leite (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Rosemeri Maurici da Silva (Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGCM/UFSC))
Introdução: A DPOC é caracterizada pela limitação irreversível do fluxo aéreo, associada a respostas inflamatórias anormais decorrentes da exposição a partículas ou gases nocivos. É mais prevalente em idosos e afeta ambos os sexos. A sarcopenia, definida pela perda progressiva de força, massa muscular e desempenho funcional, representa fator de risco para piora da função pulmonar, da capacidade funcional e do prognóstico na DPOC. Também está associada à maior intolerância ao exercício, risco aumentado de hospitalização e mortalidade. Investigar a relação entre sarcopenia e envelhecimento é essencial, pois compartilham fatores de risco semelhantes. Objetivo: Avaliar a associação entre sarcopenia e envelhecimento em pacientes com DPOC. Método: Estudo transversal com pacientes acompanhados em ambulatório de pneumologia de hospital universitário, diagnosticados com DPOC por espirometria (VEF1/CVF<0,7), segundo critérios GOLD. Participantes foram divididos em dois grupos: ≥65 e <65 anos. A sarcopenia foi rastreada por meio do questionário SARC-F, seguida da avaliação da força de preensão palmar (Jamar® Plus + digital hand). O diagnóstico baseou-se na massa muscular apendicular, obtida por bioimpedância elétrica (C-558 Ironman; Tanita), e a severidade aferida pela Short Physical Performance Battery, conforme critérios do European Working Group on Sarcopenia in Older People – 2019. Para análise estatística, foi utilizado qui-quadrado de Pearson e teste Exato de Fisher. Resultados: Participaram 68 indivíduos (média 67,1±8,5 anos), 55,8% mulheres (66,9±8,4) e 45,6% homens (67,3±8,5), maioria com escolaridade até ensino fundamental incompleto (76,5%). Sarcopenia foi identificada em 29 (42,6%), mais prevalente no grupo ≥65 anos, com associação significativa [𝜒2(1)=9,064; p=0,003]. Sarcopenia severa foi observada em 5 pacientes ≥65, sem diferença estatística [𝜒2(1)=0,967; p=0,33]. Tabagismo ativo foi identificado em 22 (32,3%), predominando no grupo ≥65 (n=14). Quanto ao IMC: 42,6% normopeso, 17,6% baixo peso, 17,6% sobrepeso e 22,0% obesidade. Não houve associação significativa entre sarcopenia e sexo [𝜒2(1)=0,147; p=0,70]. Conclusão: A sarcopenia apresentou associação significativa com o envelhecimento, sendo mais frequente e grave em indivíduos ≥65 anos. Apesar do IMC majoritariamente normal, a massa muscular apendicular estava abaixo do esperado. Pacientes mais idosos apresentaram maior prevalência de tabagismo.
Associação rara entre Tuberculose Pulmonar e Síndrome de Löeffler em criança: relato de caso
Douglas Mauricio Spies Junior (UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí), Sandra Mara Witkowski (Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)), Luciana dos Santos Celia Fossari (Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)), Shirley Jaqueline Aguilar Capuara (Hospital Infantil Pequeno Anjo (HIPA)), Karine Chaves Gomes (Hospital Infantil Pequeno Anjo (HIPA)), Isabella Ortega de Lima (Hospital Infantil Pequeno Anjo (HIPA))
A tuberculose pulmonar constitui relevante doença infecciosa, com maior impacto em países em desenvolvimento e apresentações clínicas variadas na infância. A síndrome de Löeffler caracteriza-se por infiltrados pulmonares transitórios associados à eosinofilia, geralmente de curso benigno. A concomitância das duas condições em pediatria é rara e pode representar desafio diagnóstico.
Destaca-se relato de caso: paciente feminina, 13 anos, previamente hígida, procurou pronto-socorro por mal-estar e hematêmese com eliminação de numerosos helmintos. Relatava hiporexia, perda ponderal e tosse seca há mais de 3 meses, sem febre ou sudorese noturna. Ao exame, encontrava-se emagrecida, hipocorada, em más condições de higiene, com murmúrio vesicular reduzido em ápice direito; demais achados sem alterações. Durante internação em enfermaria por 10 dias, exames mostraram anemia leve, eosinofilia e imunoglobulinas elevadas, as do subtipo IgA e IgE. Radiografia de tórax evidenciou infiltrado e cavitação em ápice direito, e pesquisa de escarro confirmou Mycobacterium tuberculosis por detecção de DNA. Foi instituído tratamento com prednisolona e albendazol por 5 dias, além de esquema RIPE com Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol para tuberculose.
A tuberculose pulmonar é uma das principais causas infecciosas respiratórias em crianças, com apresentações clínicas muitas vezes inespecíficas. Já a síndrome de Löeffler caracteriza-se por infiltrados pulmonares transitórios e eosinofilia periférica, geralmente autolimitada. A presença das duas condições, como no caso relatado, é rara e pode dificultar o diagnóstico diferencial. O reconhecimento precoce permitiu o início imediato da terapia específica, ressaltando a importância da investigação ampla diante de quadros pulmonares persistentes na infância.
A associação entre tuberculose pulmonar e síndrome de Löeffler é rara na infância. Ressalta-se a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado para reduzir complicações e garantir melhor prognóstico ao paciente.
Avaliação Da Variação Da Pressão De Pulso (Vpp) E Veia Cava Inferior (Vci) Sobre A Aplicação Da Peep Table E Peep Ards Trial (Art) Em Paciente Mecanicamente Ventilado Com Diagnóstico De Síndrome Do Desconforto Respiratório Agudo (Sdra).
Arthur Buschirolli (UNIFEBE - Centro Universitário de Brusque), Marcelo Rocha Soares da Silva (UNIFEBE), Arthur Buschirolli (UNIFEBE), Raphael Monteiro de Sousa (UNIFEBE), Leonardo Berwig (UNIFEBE), Gustavo Chitz (UNIFEBE), Natasha Vignatti (UNIFEBE), Isadora Gonzaga de Faria (UNIFEBE)
INTRODUÇÃO: A SDRA manifesta-se com inflamação pulmonar, edema alveolar e falência respiratória hipoxêmica. A VM é crucial para minimizar as alterações induzidas pelo ventilador. OBJETIVO: Avaliar a influência da PEEP Table e ARDS Trial sobre a VPP e VCI. MATERIAL E MÉTODOS: Relato de caso retrospectivo. Paciente masculino, 21 anos, internado por IRA, FC: 135bpm, FR > 30ipm, P/F: 156 em AA, pH: 7,32, ECG: 13-14, raio x: opacidade bilateral, não sugestivo a congestão pulmonar, uso de musculatura acessória, optando-se pela VNI, após 2 horas de procedimento, a escala de Harcor: 6, sendo realizada a IOT e conduzido à UTI. Sedação, RASS-5, ventilação em (PCV), após 30 minutos foi coletada G.A: pH.7,44, PaCO2.45,3, PaO2.50,6, HCO3.31,1, BE.8,0, P/F.168, com base na PEEP TABLE ARDSNetWork os parâmetros foram ajustados para PC 12, PEEP. 8, vt.0,390; FR.17; FiO2. 0,40, Crs: 32cmH2O, D.Pres 12cmH2O/ls, após 12 horas foi coletada nova GA: pH.7,45, PaCO2.46,3, PaO2.68,7, HCO3.32,3, BE.8,0, P/F.171, após o resultado gasométrico, foi verificada a VPP, apresentando 9,3%, seguido da VCI de 19,58%. Após avaliação, foi realizada a titulação da PEEP decremental (PEEP pela melhor Csr), em escalas de 30 segundos para cada estágio (PPEP máx.25), mantendo-se em 12cmH2O e a Csr 35cmH2O, sendo o paciente mantido em PCV com: PC.15; PEEP: 12; vt. 0,400; FR. 18; Fio2.0,38; Csr: 39, D.Pres.12cmH2O/l/s, após 30 min. coletada nova GA: pH.7,50, PaCO2:38,2, PaO2.88,8, HCO3:29,8, BE:6,8, P/F:233 e avaliadas a VPP em 6,8% e VCI em 10,9%, redução de 26,9% e 44,34% respectivamente, sendo mantido o protocolo ventilatório durante o restante do tempo em prótese ventilatória, sendo extubado após 6 dias. CONCLUSÃO: A PEEP baseada na Csr, neste estudo, apresentou redução da VVP e VCI, quando comparado com o PEEP table, por conta da homogeneização pulmonar, mesmo com diferença de 4 cmh2O, pode apresentar significativa melhora da pós carga do VD e das variações sistólicas, tais efeitos podem apresentar resultados duvidosos na avaliação do paciente e ações de cuidado frente a hemodinâmica do paciente, neste sentido a utilização tanto da VPP quanto da VCI pode ser de grande valia nos processos avaliativos beira leito e minimizando os riscos hemodinâmicos oriundos do uso da PEEP. No entanto, novos estudos devem ser realizados para maior coleta de dados e assim contribuir com novas informações a respeito das alterações hemodinâmicas frente ao uso da PEEP.
Barotrauma em exacerbação aguda de asma: um relato de caso
Alessandra Kozoris Dias (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Ana Beatriz dos Santos Marcon (Universidade Federal de Santa Catarina), Mariangela Pimentel Pincelli (Universidade Federal de Santa Catarina), Leila John Marques Steide (Universidade Federal de Santa Catarina)
A asma é uma doença crônica que acomete as vias aéreas, de alta prevalência e curso variável, cujo tratamento objetiva o controle clínico e prevenção de exacerbações. Quando mal controlada ou tratada de maneira inadequada, pode evoluir para exacerbações graves, especialmente se associada a outros fatores de risco. Este relato descreve o caso de uma paciente jovem com asma grave e tratamento irregular, que desenvolveu barotrauma como complicação em segunda internação em unidade de tratamento intensivo (UTI). Paciente do sexo feminino, 20 anos, com asma de difícil controle e internação prévia em UTI por exacerbação, com necessidade de ventilação mecânica. Uso irregular de Seretide® e Salbutamol de resgate e em ausência de seguimento ambulatorial. Admitida em novo episódio de exacerbação, evoluiu com insuficiência respiratória aguda, sendo realizada intubação orotraqueal e instituído suporte ventilatório mecânico, seguida de transferência para esse serviço. Durante a internação, evoluiu com pneumotórax bilateral e pneumomediastino. Foi realizada investigação com traqueoscopia e broncoscopia que não identificou lacerações em via aérea superior, afastando a hipótese de lesão de via aérea superior como causa do barotrauma. A tomografia computadorizada de tórax revelou extenso enfisema subcutâneo com dissecção de planos cervical e torácico, pequenas câmaras de pneumotórax e pneumomediastino volumoso. A ocorrência simultânea de pneumotórax bilateral, pneumomediastino e enfisema subcutâneo em resposta à exacerbação de asma é uma complicação rara e potencialmente fatal. Pacientes asmáticos são mais suscetíveis ao rompimento de bolhas pleurais ou submediastinais e barotrauma em condições de broncoespasmo e hiperinsuflação, risco que se agrava somado ao aumento das pressões intratorácicas na ventilação mecânica. A descrição do caso é importante para alertar o profissional de saúde quanto às complicações do procedimento de intubação e ventilação mecânica, identificação de sinais clínicos de piora (enfisema subcutâneo e piora súbita da ventilação) e fatores de risco associados à asma grave. Além disso, o acompanhamento ambulatorial especializado é fundamental, a fim realizar o tratamento adequado e estabelecer estratégias de educação em saúde, acesso a medicamentos, plano de ação individualizado e suporte multidisciplinar A aderência ao tratamento preventivo e monitorização ambulatorial são essenciais para prevenir desfechos desfavoráveis e complicações fatais.
Câncer de Pulmão e Internações Hospitalares no SUS: Panorama Catarinense frente à Região Sul
Júlio Cesar Detoni Nadaleti (UNOCHAPECÓ - Universidade Comunitária da Região de Chapecó), Bruna Bortolanza (UNOCHAPECÓ), Luiza Gabriela Zanuzzo (UNOCHAPECÓ)
O câncer de pulmão é uma das neoplasias mais letais no Brasil e no mundo. A baixa taxa de detecção precoce faz com que muitos casos sejam diagnosticados em estágios avançados, exigindo internações prolongadas, suporte ventilatório e cuidados paliativos.
Analisar o perfil das internações por câncer de pulmão (CID-10: C34) no Sistema Único de Saúde em Santa Catarina entre 2018 e 2023, com comparação aos demais estados da Região Sul.
Estudo descritivo e retrospectivo, baseado em dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) do período de 2018-2023.
No período analisado, o estado de Santa Catarina (SC) registrou um total de 9.114 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) por neoplasia maligna do pulmão, número inferior ao do Paraná (PR), com 10.930 internações, e do Rio Grande do Sul (RS), com 20.204 hospitalizações. Em relação ao custo médio por internação, SC apresentou o menor valor médio da região, com R$ 1.640,57, enquanto o RS registrou R$ 1.907,80 e o Paraná, R$ 1.855,15. Uma possível explicação para a variação nos custos reside no tempo médio de permanência hospitalar: RS lidera com 8,15 dias, seguido por SC com 6,82 dias e PR com 4,53 dias. Quanto ao desfecho clínico das hospitalizações, os dados indicam que SC apresenta a maior taxa de mortalidade intra-hospitalar, com 27,47% das internações resultando em óbito, enquanto PR e RS apresentam, respectivamente, 25,63% e 24,38%. Entretanto, ao se considerar a população absoluta dos estados (PR: 11.444.380; RS: 10.882.965; SC: 7.610.361), observa-se que SC registra, proporcionalmente, a menor taxa de óbitos em internações por câncer de pulmão no SUS, com 14,87 óbitos por 100 mil habitantes. Já o RS apresenta 21,25, seguido pelo PR com 17,67. Esses achados demonstram que, apesar dos três estados pertencerem a uma mesma região geográfica com altos índices de desenvolvimento humano (IDH), há desigualdades relevantes na assistência hospitalar aos pacientes com câncer de pulmão. Dessa forma, os dados sugerem a necessidade de investigações adicionais que considerem fatores como cobertura e qualidade das ações de rastreamento, tempo entre diagnóstico e início do tratamento, infraestrutura hospitalar, oferta de equipe multiprofissional e financiamento da atenção oncológica. Estudos mais aprofundados poderão contribuir para a formulação de políticas públicas mais equitativas e eficazes, visando melhorar os desfechos em câncer de pulmão na região Sul e, por extensão, em todo o território nacional.
Cobertura vacinal da Covid-19 em Santa Catarina: análise ecológica dos dados da RNDS (2025)
Matheus Rodrigues Morato Correa (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Alanis Beleze de Souza Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Raissa Martins da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Amanda Villar Lino (Universidade Federal de Santa Catarina)
Introdução: A vacina contra a Covid-19 foi introduzida em território brasileiro em março de 2021, essa protege contra a doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. A imunização foi incluída no Calendário Nacional de Vacinação em 2024, priorizando crianças de 6 meses a menores de 5 anos e os grupos com maior risco de desenvolver a forma grave da doença.
Objetivo: Descrever a cobertura vacinal da Covid-19 em Santa Catarina no ano de 2025.
Metodologia: Estudo ecológico, retrospectivo e descritivo, com base em dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) atualizados em 25 de agosto de 2025.
Resultados: A análise da cobertura vacinal contra a Covid-19 no estado de Santa Catarina demonstrou uma redução na adesão às doses de reforço previstas no calendário vacinal. A cobertura para a segunda dose atingiu 80,5%, ficando abaixo da meta de 90% estabelecida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). O número decai significativamente para 45,1% na terceira dose e na quarta dose para 15,3% apenas. No município de Florianópolis, capital do estado, a cobertura da segunda dose é semelhante à média estadual, chegando a 79,0%, com um total de 422.128 doses aplicadas. Por outro lado, o município de Barra Velha registrou os menores índices de cobertura: 46,6% na segunda dose, e 23,7% na terceira dose, com 21.007 e 10.663 doses aplicadas respectivamente. No conjunto estadual, as crianças de 3 a 4 anos apresentaram a menor cobertura vacinal de todas as faixas etárias: 17,6% para a segunda dose e apenas 6,8% para a terceira. A faixa etária de 6 meses a 2 anos também denotou baixos índices, com 32,6% na segunda dose e 7,1% na terceira.
Discussão: Os dados obtidos revelam uma queda alarmante na adesão ao esquema vacinal completo contra a Covid-19 no estado de Santa Catarina. Embora a cobertura da segunda dose (80,5%) esteja relativamente próxima da meta estabelecida pelo PNI, de 90%, os índices subsequentes denotam um declínio acentuado na continuidade da vacinação. Essa tendência segue um padrão nacional, observado em diversas regiões do país no período pós-pandêmico. A disparidade entre os municípios de Florianópolis e Barra Velha, com cobertura notadamente inferior, reforça a necessidade de intervenções que promovam a equidade de acesso e interiorização das imunizações. Por fim, a baixa cobertura vacinal entre crianças, principalmente nas faixas de 6 meses a 4 anos, expõe esse grupo altamente vulnerável a riscos e complicações evitáveis.
Doença Pulmonar Intersticial Fibrosante e Carcinoma de Pequenas Células: Relato de Caso
Pedro Henrique Albuquerque da Silva (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Ana Clara Flor da Costa (Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC)), Luiz Fernando de Souza Santos (UFSC), Pietro Silva Martins Gadelha (UFSC), Raissa Martins da Silva (UFSC), Manuela Brisot Felisbino (Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC)), Leila John Marques Steidle (UFSC)
Introdução: As doenças pulmonares intersticiais (DPI) constituem um grupo heterogêneo de distúrbios caracterizados por inflamação e fibrose do parênquima pulmonar. A pneumonite por hipersensibilidade crônica fibrosante (PHCF) resulta de resposta imune a antígenos inalados e pode evoluir para fibrose progressiva. Estudos demonstram aumento do risco de câncer de pulmão em pacientes com DPI. Entre as neoplasias associadas, destaca-se o carcinoma de pequenas células (CPC), de comportamento agressivo e prognóstico desfavorável. A coexistência de DPI e câncer impõe desafios diagnósticos e terapêuticos.
Relato de Caso:Paciente feminina, 65 anos, ex-tabagista (80 maços-ano), iniciou dispneia e tosse seca em 2018. Em 2021, foi diagnosticada com PHCF, associada à exposição a pombos e tomografia computadorizada de tórax compatível com padrão fibrosante (vidro fosco, reticulação, aprisionamento aéreo e faveolamento). Apresentava baqueteamento digital, estertores em velcro e reumatograma negativo. Houve melhora clínica com micofenolato, porém espirometrias mostraram queda da CVF de 2,14 L (82%) em 2023 para 1,67 L (65%) em 2024. Em janeiro/2024, a TC identificou nódulo pulmonar no lobo inferior esquerdo (2,3 × 2,1 cm). Biópsia realizada em abril/2024 confirmou CPC. A paciente evoluiu com tosse produtiva, dispneia grau 4 (mMRC) e pneumonia. Em outubro/2024, o nódulo cresceu para 3,3 × 3,0 cm, com linfonodomegalias mediastinais. Iniciou tratamento oncológico no CEPON com 18 ciclos de quimioterapia, mas evoluiu a óbito em março/2025 por progressão tumoral.
Discussão: A associação entre DPI e câncer de pulmão é bem estabelecida, com risco até três vezes maior que na população geral, mesmo após ajuste para idade e tabagismo. A presença de PHCF, associada ao tabagismo intenso e à exposição a pombos, potencializou esse risco por mecanismos como inflamação crônica, estresse oxidativo e liberação de citocinas pró-fibrogênicas (ex.: TGF-β), que favorecem a fibrose e a transformação neoplásica. Embora a associação seja menos frequente do que na fibrose pulmonar idiopática, estudos relatam prevalência de câncer em até 9% dos pacientes com PHCF, reforçando o papel do microambiente fibrótico como promotor tumoral. A coexistência de DPI e CPC aumenta o risco de complicações em biópsias, limitações terapêuticas e exacerbação da fibrose, exigindo manejo multidisciplinar e vigilância oncológica rigorosa.
Envelhecimento e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): perfil clínico de pacientes idosos em seguimento ambulatorial
Júlia Soares Leite (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Jhonata de Marco Vieira (Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina), Rosemeri Maurici da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina, Núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas (NUPAIVA))
Introdução: A DPOC é a terceira principal causa de mortalidade global, sendo definida pela presença de sintomas respiratórios persistentes e limitações crônicas, geralmente irreversíveis, ao fluxo de ar. O envelhecimento está associado ao aumento da prevalência e da gravidade de comorbidades, tornando os idosos mais vulneráveis a desfechos clínicos adversos. As semelhanças fisiopatológicas entre a senescência e a DPOC contribuem para o subdiagnóstico e dificultam seu manejo. Assim, o tratamento requer abordagem multidisciplinar, com estratificação da gravidade orientada por evidências específicas do perfil geriátrico. Objetivo: Descrever o perfil clínico de idosos com DPOC em acompanhamento ambulatorial de pneumologia. Método: Trata-se de um estudo transversal observacional, realizado com pacientes ≥65 anos, de ambos os sexos, em acompanhamento ambulatorial especializado em pneumologia. A inclusão foi baseada no diagnóstico espirométrico de DPOC, segundo os critérios da Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), utilizando a razão VEF1/CVF <0,7 pós-broncodilatador. A amostra final foi composta por 64 participantes. Resultados: A média de idade foi de 72,2 ± 5,5 anos, variando entre 65 e 89 anos, com distribuição homogênea entre os sexos (33 homens e 31 mulheres). Fumantes ativos representaram 32,8% da amostra, sendo 55% com baixa ou muito baixa dependência nicotínica segundo o Teste de Fagerström. Hipertensão arterial sistêmica foi a comorbidade mais prevalente (60,9%), seguida por diabetes mellitus (12,5%). Quanto ao Índice de Massa Corporal, 45,3% encontravam-se eutróficos, 25% em baixo peso, 15,6% em sobrepeso e 14% em algum grau de obesidade. 34 pacientes (54,7%) apresentaram histórico de exacerbações, e 25 indivíduos (39%) relataram internação prévia. Segundo a classificação de gravidade GOLD, 35,9% apresentaram obstrução moderada, 45,3% grave e 15,6% muito grave. Pela classificação multidimensional GOLD ABE, 50% foram categorizados como GOLD B, 37,5% como GOLD E e 12,5% como GOLD A. Por fim, a avaliação cognitiva pelo Mini-Cog foi sugestiva de déficit em 42,2% da amostra. Conclusão: Os achados evidenciam alta prevalência de comorbidades cardiovasculares, alterações nutricionais, déficit cognitivo e carga elevada de exacerbações na faixa etária analisada. Esses dados reforçam a importância de avaliação geriátrica ampla e da abordagem individualizada para melhor estratificação de risco e conduta terapêutica.
Fibrose pulmonar progressiva secundária a Lúpus Eritematoso Sistêmico: um relato de caso
Isadora Oliveira Corrêa (Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes), Tiago Spiazzi Bottega (Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes), Marcus de Luca Maciel (Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes), Gabriel Chaves Silva de Almeida (Universidad Maimonides, Buenos Aires), Isabela Oliveira Corrêa (Universidade do Sul de Santa Catarina)
A doença intersticial pulmonar no Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é rara e, diferentemente de outras doenças do tecido conectivo, costuma apresentar padrão de pneumonia intersticial não específica (PINE), podendo ou não estar associada a bronquiolite obliterante com pneumonia organizada. A progressão para fibrose pulmonar ocorre em até 49% dos casos, com alta morbi-mortalidade. Antifibróticos como o nintedanib são validados e reduzem a perda funcional, mas não há estudos específicos em pacientes com LES.
Mulher, 26 anos, portadora de LES em uso de micofenolato e prednisona, acompanhava com reumatologista por dispneia aos moderados esforços e tosse crônica há 3 anos, com TC de tórax mostrando áreas esparsas em vidros foscos. Procura emergência por piora da dispneia e dessaturação, sendo admitida em insuficiência respiratória aguda. A TC mostrou agravamento das opacidades, reticulações e bronquiectasias de tração. Suspeitando-se de infecção associada à doença de base, foi tratada para pneumonia viral (rinovírus detectado). Lavado broncoalveolar mostrou predomínio de neutrófilos (70%) e culturas negativas. Recebeu antibioticoterapia, seguido de pulsoterapia com metilprednisolona, associado as profilaxias do paciente imunodeprimido, sem resposta clínica. Introduzida ciclofosfamida, mantendo-se dispneica aos mínimos esforços, com necessidade de O2 suplementar. Submetida a biópsia pulmonar com achados de PINE com progressão para fibrose e iniciado nintedanib. Apesar de múltiplas linhas de imunossupressão e uso de antifibrótico, recebeu alta com insuficiência respiratória crônica hipoxêmica dependente de oxigenoterapia domiciliar. Encaminhada para transplante pulmonar, evoluindo a óbito cerca de 6 meses depois por insuficiência respiratória aguda antes de previsão para o procedimento.
Este caso ilustra a complexidade diagnóstica e terapêutica da doença intersticial pulmonar associada ao LES. Apesar de tratamento imunossupressor e suporte multidisciplinar, a paciente apresentou rápida progressão para fibrose pulmonar, destacando a importância da suspeição precoce, do acompanhamento especializado com introdução de terapia antifibrótica e da consideração do transplante pulmonar em tempo oportuno.
Granulomatose com Poliangeíte: Um Relato de Acometimento Pulmonar
Mariela Goulart Adames, Marcus de Luca Maciel (Hospital Regional de São José - Dr Homero de Miranda Gomes), Tiago Spiazzi Bottega (Hospital Regional de São José - Dr Homero de Miranda Gomes), Thiago Alicio Severino Jovino (Hospital Regional de São José - Dr Homero de Miranda Gomes), Gabriela Magalhães Grubert (Hospital Regional de São José - Dr Homero de Miranda Gomes)
Introdução: Cerca de 90% dos pacientes com granulomatose com poliangeíte (GPA) irão ter envolvimento do trato respiratório em algum momento da vida. As principais apresentações pulmonares são inflamação granulomatosa necrosante, inflamação traqueobrônquica e capilarite pulmonar. Os achados mais comuns na tomografia são os nódulos pulmonares e massas, já as cavitações são observadas em 50% dos casos. O relato descreve uma paciente com GPA com manifestações pulmonares.
Relato de caso: Mulher, 46 anos, hipertensa, diabética e asmática, diagnosticada com GPA em abril de 2021 após quadro de mialgia, artralgia, tosse seca, sinusites de repetição, nariz em sela e perda da acuidade visual a direita. Devido a atividade ocular grave (esclerite necrotizante) foi realizada pulsoterapia com metilprednisolona e ciclofosfamida. Em seguida, manteve tratamento com metotrexato e prednisolona até junho de 2022. Diante da refratariedade, iniciou pulsoterapia mensal com ciclofosfamida até novembro de 2022, sem melhora, foi iniciado infliximabe mensal. Em fevereiro de 2023 durante o uso de infliximabe, evoluiu com dispneia aos mínimos esforços e piora da tosse seca. A tomografia de tórax evidenciou consolidação nodular cavitada no ápice do pulmão direito, micronódulos subpleurais e pulmonares esparsos. A broncoscopia revelou infiltração extensa cuja biópsia mostrou inflamação crônica granulomatosa com necrose e supuração, sugestivo de GPA. Sorologias, IGRA, painel viral e hemoculturas foram negativos. O lavado broncoalveolar para culturas de bactérias e fungos, pesquisa de células neoplásicas, BAAR e PCR para Mycobacterium tuberculosis (LBA e biópsia de pele) foram negativos. Obteve 10 pontos no escore ACR/EULAR 2022 por congestão nasal, acometimento cartilaginoso, nódulos pulmonares cavitados, granuloma e inflamação dos seios nasais/paranasais. Foi iniciado rituximabe (2g em doses semestrais). Houve importante regressão das cavitações e nódulos pulmonares na TC de 4 meses e manteve apenas alterações fibróticas e bronquiectasias de tração na TC de 2 anos. Apesar da resposta pulmonar, não teve controle da atividade ocular, necessitando enucleação. Atualmente, segue estável, com dispneia aos moderados esforços, em uso de rituximabe, prednisona 5 mg/dia e broncodilatadores.
Conclusão: O relato corrobora os achados pulmonares frequentes na GPA descritos na literatura, exemplifica a dificuldade terapêutica nas vasculites raras e destacada uma boa resposta pulmonar ao rituximabe.
Granulomatose Eosinofílica com Poliangite ANCA-negativa e acometimento multisistêmico: um relato de caso
Isabela Ioris Ávila, Letícia de Malfussi Travassos Gomes (UNESC), Eduarda Rezin (UNESC), Gabriela Ghizoni Boing (UNESC), Tayna Tomaz de Oliveira (UNESC), Vitória Dajori Schaukoski (UNESC), Helena Ferreira Demetrio (UNESC)
Introdução: A granulomatose eosinofílica com poliangite (GEPA) é uma vasculite rara, associada a anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) positivos em cerca de 30% dos casos. Os casos ANCA-negativos cursam com manifestações sistêmicas, principalmente cardíacas e pulmonares. Relata-se aqui um caso de GEPA ANCA-negativa com manifestações graves e boa resposta à imunossupressão. Caso clínico: Mulher, 51 anos, com asma, hipertensão e ex-tabagismo, iniciou em fevereiro/2025 síndrome consumptiva com perda ponderal de 12kg, náuseas e colite recorrente. Evoluiu com paresia assimétrica em membros inferiores e sinais de hipoatividade piramidal. Eletroneuromiografia indicou polineuropatia sensitivo-motora assimétrica; líquor mostrou linfocitose e TC de crânio, gliopatia periventricular. Evoluiu para insuficiência respiratória aguda, necessitando ventilação invasiva em UTI. TC de tórax revelou consolidações em vidro fosco bilateral, bronquiectasias e distorção arquitetural. Havia eosinofilia persistente e medula óssea hipercelular com três linhagens preservadas. Apresentou ainda disfunção cardíaca (FEVE 33%), valvopatias leves e miocardiopatia inflamatória. ANCA foi negativo. Diagnóstico de GEPA ANCA-negativa multissistêmica foi estabelecido. Iniciou pulsoterapia com corticosteroides e ciclofosfamida EV, com melhora clínica e desmame ventilatório. Discussão: A GEPA ANCA-negativa frequentemente envolve sistema pulmonar e cardíaco, com evolução grave e sistêmica. O caso segue esse padrão, com insuficiência respiratória e achados tomográficos compatíveis com pneumonite eosinofílica, típica das formas ANCA-negativas e distinta da vasculite alveolar comum das positivas. A identificação precoce do comprometimento cardíaco permitiu intervenção intensiva e melhor prognóstico. As manifestações neurológicas ocorreram associadas aos sinais de inflamação sistêmica típicos do quadro, enquanto o envolvimento gastrintestinal reforçou a natureza difusa da doença. A boa resposta à terapia reforça a importância de intervenção precoce e agressiva. Conclusão: O caso ilustra a complexidade diagnóstica e terapêutica da GEPA ANCA-negativa grave. Mesmo sem ANCA, a associação de eosinofilia persistente e acometimento multissistêmico deve direcionar o diagnóstico, permitindo tratamento precoce e abordagem multidisciplinar para melhor prognóstico.
Hospitalizações por asma em adolescentes na região Sul do Brasil: uma análise temporal de 2018 a 2023
Júlio Cesar Detoni Nadaleti (UNOCHAPECÓ - Universidade Comunitária da Região de Chapecó), Bruna Bortolanza (UNOCHAPECÓ), Luiza Gabriela Zanuzzo (UNOCHAPECÓ)
A asma é uma das doenças crônicas mais prevalentes na adolescência, gerando impacto significativo na qualidade de vida e sobrecarregando os serviços de saúde. No Brasil, permanece entre as principais causas de hospitalização por doenças respiratórias não transmissíveis em crianças e adolescentes.
Analisar o perfil e a prevalência de hospitalizações por asma em adolescentes na região Sul do Brasil, entre 2018 e 2023.
Estudo descritivo e retrospectivo, utilizando dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS.
A análise das internações por asma permite identificar padrões regionais e temporais que podem subsidiar políticas públicas e estratégias de prevenção. Entre 2018 e 2023, observou-se uma redução nas taxas de internação por asma em adolescentes de 10 a 19 anos nos três estados da região Sul do Brasil. Em 2018, Santa Catarina apresentou as maiores taxas de hospitalização na faixa etária de 10 a 14 anos, com 2,95 internações por 10.000 habitantes, seguida pelo Paraná (2,33) e pelo Rio Grande do Sul (1,12). Na faixa etária de 15 a 19 anos, os valores iniciais foram inferiores, correspondendo a 1,59 no Paraná, 1,44 em Santa Catarina e 0,41 no Rio Grande do Sul, confirmando a tendência de maior hospitalização entre os adolescentes mais jovens. Ao longo do período analisado, verificou-se queda progressiva nas taxas em todos os estados e faixas etárias. Em Santa Catarina, a taxa na faixa de 10 a 14 anos caiu de 2,95 em 2018 para 0,77 em 2023, representando uma redução superior a 70%. No mesmo intervalo, o Paraná apresentou redução de 2,33 para 0,79, enquanto o Rio Grande do Sul passou de 1,12 para 0,40 internações por 10.000 adolescentes. De modo geral, a faixa etária de 10 a 14 anos apresentou taxas superiores às da faixa de 15 a 19 anos em todos os anos e estados avaliados. Ademais, a maior redução percentual foi observada em Santa Catarina. A tendência de queda das internações por asma pode estar associada a melhorias na atenção ambulatorial à saúde respiratória, ao aumento da disponibilidade de medicamentos de controle e a fatores relacionados à pandemia de COVID-19, como o distanciamento social e a redução da circulação de vírus respiratórios desencadeantes. Apesar da tendência de queda, persistem diferenças relevantes entre estados e faixas etárias. Os dados reforçam a importância de políticas públicas regionais voltadas à prevenção de crises asmáticas e à ampliação do acesso ao tratamento, especialmente entre os adolescentes mais jovens.
Impacto da Tuberculose Pulmonar na Mortalidade Catarinense: uma série temporal de 2014 a 2024
Wagner de Almeida Soares (UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina), Lucas Almeida Soares (Universidade do Sul de Santa Catarina), Hugo Barbosa Alencar (Universidade do Sul de Santa Catarina), Roberta Cunha da Silveira (Universidade do Sul de Santa Catarina), Pilar Rodrigues Couto (Médica Pneumologista Pediátrica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)
INTRODUÇÃO: A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que persiste como um grave problema de saúde pública global e nacional. Apesar de ser uma doença curável, a TB foi a segunda principal causa de morte por um único agente infeccioso no Brasil em 2022. A pandemia de COVID-19 impactou o diagnóstico e o tratamento, e estudos de séries temporais regionais são escassos, dificultando a compreensão do real impacto na saúde pública. Este estudo analisa o perfil epidemiológico e a tendência temporal da mortalidade por tuberculose pulmonar em Santa Catarina entre 2014 e 2024. OBJETIVO:
Descrever o perfil de mortalidade e analisar a tendência temporal de óbitos por Tuberculose Pulmonar na população do estado de Santa Catarina entre 2014 e 2024. METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo transversal e de série temporal, baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A pesquisa analisou as notificações de óbitos por tuberculose pulmonar na população de Santa Catarina entre os anos 2014-2024, considerando variáveis como total de óbitos por ano, sexo, faixa etária, local de ocorrência e etnia. A análise foi feita por meio de estatística descritiva. RESULTADOS:
Entre 2014 e 2024, Santa Catarina registrou 372 óbitos por tuberculose pulmonar, com maior incidência em 2023 (15,05%), 2024 (12,90%) e 2021 (10,75%), e menor em 2014 (5,64%). A maioria das vítimas era masculina (74,19%) e branca (81,45%), seguida por pardas (11,29%) e pretas (6,18%). As faixas etárias mais afetadas foram 50 a 59 anos (25,8%), 40 a 49 anos (20,7%) e 60 a 69 anos (15,6%). Florianópolis concentrou mais óbitos (37,9%), seguida por Joinville (20,2%) e Lages (9,4%). Os principais locais de notificação foram Hospital Nereu Ramos (35,2%), Hospital Regional Hans Dieter Schmidt (18,8%) e Hospital e Maternidade Tereza Ramos (9,1%). CONCLUSÃO:
A mortalidade por tuberculose pulmonar em Santa Catarina (2014-2024) mostra que, embora menor que outras infecções respiratórias, a doença continua relevante para a saúde pública. O perfil de risco é predominantemente masculino, afetando adultos brancos em idade produtiva (40-59 anos). Houve aumento da mortalidade nos anos pós-pandemia (2021, 2023 e 2024), sugerindo impacto no diagnóstico e manejo. A concentração de óbitos em Florianópolis e hospitais de referência, como o Hospital Nereu Ramos, reforça a importância desses centros e a necessidade de fortalecer estratégias de controle e vigilância.
Infecção pulmonar por Rhodococcus hoagii em paciente com hemossiderose pulmonar idiopática em fila de transplante pulmonar: Relato de caso.
Pedro Henrique Ronchi Dal Toé (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Renata Ullmann de Brito (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Júlia Martins Righi (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Ricardo Jappe Bochi Dorneles (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Laura Weber Luca (Hospital Nossa Senhora da Conceição)
Introdução: O Rhodococcus hoagii é um patógeno oportunista incomum em humanos, descrito mais frequentemente em pacientes imunossuprimidos. Trata-se de um microrganismo de difícil manejo terapêutico, dada sua resistência relativa e tendência à recorrência. Relatamos um caso de infecção pulmonar recorrente por R. hoagii em paciente portadora de hemossiderose pulmonar idiopática em fila de transplante pulmonar. Relato de caso: Feminina, 42 anos, portadora de hemossiderose pulmonar idiopática diagnosticada por biópsia, em fila de transplante pulmonar, em uso de oxigênio domiciliar e imunossupressa, com última pulsoterapia com ciclofosfamida em outubro de 2024. Em abril de 2025, internou com febre, dispneia progressiva e hemoptise. Hemoculturas isolaram R. hoagii, sendo iniciado Meropenem, com melhora clínica rápida. Definiu-se sequência terapêutica com levofloxacino + azitromicina por 10 dias durante a internação e, posteriormente, ciprofloxacino + azitromicina por dois meses em regime ambulatorial. Em junho de 2025, foi novamente internada após dois dias de febre e hemoptise recorrente. Iniciou Piperacilina-Tazobactam, posteriormente substituída por vancomicina, gentamicina e azitromicina. Novas hemoculturas novamente isolaram R. hoagii. Após avaliação da Infectologia, recebeu alta hospitalar em condições estáveis, com manutenção de antibioticoterapia oral e seguimento ambulatorial conjunto. Discussão: Infecções por R. hoagii em humanos são raras e geralmente relacionadas a imunossupressão. A doença pulmonar é a forma clínica predominante e pode simular tuberculose ou neoplasia pulmonar, o que retarda o diagnóstico. A confirmação depende do isolamento microbiológico, frequentemente desafiador pela lentidão do crescimento bacteriano. O tratamento deve ser prolongado e combina antibióticos de diferentes classes. A recidiva, como observada neste caso, não é incomum, sobretudo em pacientes gravemente imunocomprometidos ou com doenças pulmonares crônicas. Este caso reforça a importância da vigilância contínua em pacientes candidatos a transplante pulmonar, e do manejo multidisciplinar envolvendo pneumologia e infectologia. Conclusão: O presente relato descreve infecção pulmonar recorrente por Rhodococcus hoagii em paciente com hemossiderose pulmonar idiopática, reforçando a necessidade de suspeição diagnóstica em pacientes imunossuprimidos e a condução adequada da antibioticoterapia, especialmente no contexto pré-transplante.
Investigação de embolia pulmonar em 1998 pacientes internados com diagnóstico de COVID-19
Ana Luiza da Rosa de Oliveira Nerbass, NATHALIA MEDEIROS NEVES FRANCIO (UNIPLAC), MÁRCIO COSTA SILVEIRA DE ÁVILA (HGMTR)
Introdução: O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma complicação potencialmente grave associada à COVID-19, cujo diagnóstico pode ser realizado por angiotomografia computadorizada pulmonar (ATCP) (POOR, 2021). Objetivo: Avaliar a prevalência de TEP em pacientes com COVID-19 submetidos à ATCP em hospital regional de referência, bem como o desfecho desfavorável, o óbito, destes pacientes. Metodologia: Estudo observacional, quantitativo e transversal, realizado por meio da análise de prontuários eletrônicos de pacientes internados entre março de 2020 e abril de 2022. A pesquisa foi aprovada pelo CEP/UNIPLAC e pela instituição sob parecer 5.603.309. Resultados: Durante o período analisado, foram internados 1998 pacientes com diagnóstico de COVID-19, dos quais 156 (7,8%) realizaram ATCP. Desses, 24 apresentaram exames compatíveis com TEP, indicando prevalência de 15,4% (Erro padrão - EP - 0,0289; IC95% 9,7% a 21,0%). A prevalência de TEP sobre o total de internados foi de 1,2% (EP 0,00244; IC95% 0,72% a 1,68%). A mortalidade geral foi de 24,9% (498 óbitos), enquanto no grupo investigado para TEP o desfecho óbito foi de 12,2% (19 pacientes), sem significância estatística (p = 0,159). Discussão: A baixa realização de ATCP (156/1998) revela desafios operacionais, como instabilidade clínica dos pacientes, medidas para redução da exposição viral e escassez de recursos durante a pandemia, convergente com o estudo de MUGU et al., (2024). A prevalência de TEP observada (15,4%) é próxima à incidência de 14,7% relatada por RONCON et al. (2020), no grupo de estudo que realizou a ATCP. Segundo NOBRE et al., 2024, achados não típicos, como sinais de irregularidades vasculares (SIVP) ocorreram em 76,9% dos casos, enquanto defeitos de preenchimento arterial foram detectados em 35% dos pacientes, reforçando a hipótese de angiopatia difusa na patologia, podendo justificar a alta mortalidade mesmo em pacientes sem diagnóstico de TEP clássico na imagem. Conclusão: Sugere-se ampliar a investigação em pacientes com COVID-19 que não realizaram ATCP, bem como estudos comparativos entre casos de TEP com e sem infecção viral.
Morbimortalidade Hospitalar de Pneumonia em Santa Catarina, 2019–2024: Tendências e Perfil Epidemiológico
Alanis Beleze de Souza Silva, Raissa Martins da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Matheus Rodrigues Morato Corrêa (Universidade Federal de Santa Catarina), Ana Clara Flor da Costa (Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago), Edgar Ferreira Toniolo (Universidade Federal de Santa Catarina), Pedro Henrique Albuquerque da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Fernando de Souza Santos (Universidade Federal de Santa Catarina)
Introdução: A pneumonia é uma infecção do trato respiratório inferior e manifesta-se com a inflamação dos alvéolos e a presença de infiltrado novo. Pode ter múltiplos agentes causadores (como bactérias, fungos e vírus), mas sua principal etiologia é o Streptococcus pneumoniae. O quadro clínico costuma incluir tosse, dor pleurítica e sinais sistêmicos de infecção. Objetivo: Descrever a Morbimortalidade Hospitalar por Pneumonia em Santa Catarina entre 2019 e 2024. Metodologia: Estudo ecológico, retrospectivo e descritivo com dados do Sistema de Informações Hospitalares via DATASUS, analisando sexo, idade, município, óbitos, taxa de mortalidade e raça/cor. As associações foram testadas pelo qui-quadrado no Jamovi. Resultados: Entre 2019 e 2024 foram registrados 148.555 casos, com predominância em Joinville com 8.322 casos (17,85%) e 912 óbitos, resultando em taxa de mortalidade de 10,9%. A cor/raça mais afetada foi a branca, com 129.440 casos (87,13%). Em 2019, ano pré-pandemia, contabilizaram-se 28.680 casos. Nos anos de 2020 e 2021 observa-se queda acentuada: respectivamente 15.486 e 15.760 casos totais, correspondendo a reduções de –46,0% (2020 vs. 2019) e de –45,0% (2021 vs. 2019). A partir de 2022 há recuperação expressiva, com 27.921 casos. O crescimento em relação a 2021 foi de +77,2%. Essa retomada se manteve estável em 2023 (27.961 casos), com novo aumento em 2024, quando se registraram 31.530 casos, o maior valor da série. Do ponto de vista da distribuição por sexo, o sexo masculino respondeu por 51,0% dos casos e o feminino por 48,9%. Por fim, o teste do qui-quadrado mostrou que não houve associação significativa entre sexo e faixa etária nos casos de pneumonia (χ² = 1,21; p = 0,997), indicando que a distribuição por idade é semelhante em homens e mulheres, com maior ocorrência entre crianças de 0 a 10 anos (23,48%). Discussão: Os casos de pneumonia caíram em 2020 e 2021, possivelmente devido à pandemia de COVID-19, período que ocorreu distanciamento social e subnotificação causada pela sobrecarga dos serviços de saúde. A partir de 2022 houve retomada dos casos, atingindo em 2024 o maior número da série. A predominância em Joinville relaciona-se à densidade populacional, enquanto a maior frequência em brancos reflete a composição demográfica. A distribuição equilibrada entre sexos e faixas etárias indica acometimento semelhante entre grupos, mas a mortalidade expressiva reforça sua relevância clínica e a necessidade de atenção em saúde pública.
Mucormicose pulmonar em paciente diabética- Relato de caso
Luana Gabriely de Almeida Campos (UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville), Brenda Corrêa Pessoa (Universidade da Região de Joinville), Gabriel de Oliveira Nogueira Peralta (Universidade da Região de Joinville), Sabrina Moraes Rohregger (Universidade da Região de Joinville), Gabriel Volpato (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt), Marcus Vinicius Teodoro Junior (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt), Guilherme Seara Muller (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt)
Introdução: A mucormicose é causada por fungos filamentosos Mucorales tendo como principais sítios de infecção os tecidos moles, tal como o trato respiratório, sendo uma manifestação rara e que pode ser marcada por febre, tosse, dispneia, dor torácica e hemoptise. Em pacientes diabéticos, o curso pode ser subagudo e propenso a infecção traqueobrônquica. Objetivos: Abordar e discutir a evolução clínica da mucormicose pulmonar, ressaltando seu diagnóstico e manejo. Relato de caso: Paciente feminina, 63 anos, com Parkinson, Diabetes tipo 2 e hipotireoidismo. Buscou o serviço de saúde por tosse persistente, perda ponderal, dispneia leve e astenia, com histórico recente de internação por pneumonia e cetoacidose diabética, nega vícios. Ao exame físico apresenta SpO2 95%, HGT 286mg/dl e murmúrios vesiculares reduzidos em base direita. Devido à permanência de consolidação pulmonar pós tratamento de pneumonia, foi realizada broncoscopia para diagnóstico diferencial e afastar neoplasia, que apresentou hiperemia local, área de estenose e aspecto de fibrina além de coleta de lavado e biópsia, que apresentou mucosa brônquica com inflamação crônica, positivo para colorações PAS e Grocott, sugestivos de Mucormicose. As sorologias de HIV, VDRL e pesquisa de bacilos de koch deram negativo. O tratamento de escolha foi Anfotericina lipossomal 5mg/kg por 21 dias, hidratação endovenosa, controle de creatinina e eletrólitos e incluído Meropenem por piora clínica. Na tomografia de tórax havia obliteração de brônquios segmentares para o lobo inferior direito, consolidações parahilares ipsilaterais, área liquefeito e bolhas gasosas a direita, espessamento de paredes brônquicas e opacidades sugestivas de atelectasias. Após discussão multidisciplinar, por piora da lesão e derrame pleural, optou-se pela lobectomia do lobo inferior direito. Ainda, foi necessária cirurgia toracoscópica por vídeo à direita na qual visualizaram-se aderências, empiema fase III, fibrina e líquido pleural e realizada decorticação e desbloqueio pulmonar. Contudo, apesar das tentativas de tratamento, a paciente evoluiu para óbito. Resultados: A mucormicose pulmonar é rara, porém agressiva em pacientes imunocomprometidos ou com descompensação metabólica, como a cetoacidose diabética recente, favorecendo a instalação e progressão da infecção. Conclusão: Logo, controlar doenças prévias e avaliar abordagem cirúrgica precoce na suspeita de Mucormicose pulmonar pode influenciar no prognóstico da doença.
Neoplasias malignas de traquéia, brônquios e pulmão no Brasil e em Santa Catarina: uma comparação do panorama de internações, óbitos e perfil epidemiológico (2021–2025)
Martina Werner Siebert (Estudante), Ana Júlia Graf (Unifebe), Giovana Busnardo Voltolini (Unifebe), Giovanna Marchetti (Unifebe), Beatriz Luana Baratter do Carmo (Unifebe), Cauan Mandelli rochadel Moreira (unifebe), Rodrigo Kerber (Unifebe)
A neoplasia de traquéia, brônquios e pulmão (TBL) constitui importante desafio à saúde pública mundial, pois a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados, resultando em elevada mortalidade. O câncer de pulmão é o tumor maligno mais comum globalmente, associado a fatores de risco como tabagismo, exposições ambientais e ocupacionais, além de infecções como tuberculose e HIV. Nesse cenário, hábitos de vida saudáveis, prevenção e diagnóstico precoce são fundamentais. Este estudo descritivo e retrospectivo utilizou dados do DATASUS (2021 a junho/2025) para analisar internações e óbitos por TBL no Brasil e em Santa Catarina, considerando sexo, faixa etária, raça/cor e caráter de atendimento.
Entre 2021 e 2024, observou-se aumento progressivo das internações: em Santa Catarina, de 1.389 para 1.736 (+5,46%), e no Brasil, de 24.407 para 30.951 (+5,9%). Até junho de 2025, os valores corresponderam a cerca de 43% do total de 2024. Quanto ao sexo, houve discreto predomínio masculino, com 56% das internações em SC e 51,3% no país. A faixa etária mais afetada foi de 60 a 69 anos (39,7% em SC e 37,6% no Brasil), seguida por 70 a 79 anos (25% e 25,9%). Os casos infantis catarinenses corresponderam a apenas 2,9% do total nacional. A maioria dos internados era branca (90,2% em SC e 47,6% no Brasil), reflexo da composição demográfica do Sul e Sudeste, enquanto nas demais regiões houve predominância parda. O atendimento de urgência foi responsável por cerca de 70% das internações em ambos os cenários. No período, Santa Catarina respondeu por 5,74% das internações e 6,2% dos óbitos nacionais (1.981 de 31.802). Os maiores valores foram registrados em 2023 (462 em SC) e 2024 (7.523 no Brasil).
Conclui-se que as neoplasias de TBL têm impacto expressivo no sistema hospitalar, com altas taxas de internações de urgência e mortalidade significativa. Medidas voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento ambulatorial adequado são essenciais para reduzir agravamentos clínicos, a necessidade de internações emergenciais e os óbitos relacionados.
Perfil comportamental, cognitivo e antropométrico de indivíduos portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), estratificados pela presença ou ausência de sarcopenia
Jhonata de Marco Vieira (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Flávia del Castanhel (Núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas (NUPAIVA)), Andria Machado da Silva (Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas (PPGCM/UFSC)), Rosemeri Maurici da Silva (Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGCM/UFSC))
Introdução: A DPOC está associada à perda de massa e função muscular esquelética, caracterizando a sarcopenia, que impacta negativamente os estados funcional e cognitivo. A avaliação multidimensional desses aspectos pode orientar estratégias terapêuticas mais eficazes. Objetivo: Descrever e comparar perfis antropométrico, comportamental e cognitivo de indivíduos com DPOC, estratificados pela presença ou ausência de sarcopenia. Métodos: Estudo transversal com 106 indivíduos com DPOC, 39 (36,8%) com sarcopenia. Foram avaliados parâmetros antropométricos (composição corporal por bioimpedância [Tanita, C-558 Ironman], circunferências abdominal e panturrilha), comportamentais (IPAQ, tempo sentado, tabagismo), cognitivos (Mini-Cog) e clínicos (GOLD, mMRC, CAT). Utilizou-se estatística descritiva com médias, desvios padrão e frequências. Resultados: A média de idade foi 66,8 ± 8,3 anos, com 56,6% mulheres. O grupo com sarcopenia apresentou menores circunferências da panturrilha (30,8 ± 2,2 vs. 35,5 ± 2,9 cm), abdominal (85,8 ± 10,3 vs. 102,0 ± 13,1 cm), gordura visceral (9,7 ± 3,4 vs. 12,4 ± 4,7), massa gorda total (27,1 ± 9,4 vs. 31,6 ± 9,3 kg) e peso ósseo (2,0 ± 0,3 vs. 2,6 ± 0,4 kg). Esse grupo relatou menor tempo sentado nos dias úteis (274,1 ± 170,4 vs. 310,9 ± 197,9 min) e finais de semana (271,0 ± 183,3 vs. 284,9 ± 142,0 min). Os níveis de atividade física foram semelhantes entre os grupos, com predomínio de sedentários. A sarcopenia teve maior prevalência de baixo peso (15,1% vs. 3,8%) e menor prevalência de sobrepeso/obesidade. O tabagismo ativo foi mais frequente entre os não sarcopênicos (30,2% vs. 9,4%). Ambos os grupos apresentaram maior frequência de obstrução grave (GOLD 3). Pela mMRC, os sarcopênicos tiveram maior limitação funcional (25,5% níveis 2–4), enquanto nos não sarcopênicos predominou o nível 1 (24,5%). No CAT, o impacto clínico foi maior nos sarcopênicos (16,0% escore alto; 4,7% muito alto). O Mini-Cog indicou positividade para déficit cognitivo em 51,3% (sarcopenia) vs. 49,2% (não sarcopenia). Conclusão: Embora o sedentarismo seja fator de risco para sarcopenia, pacientes com DPOC e sarcopenia relataram menos tempo sentado, mas maior dispneia e impacto clínico, sugerindo que a sarcopenia reflete processos sistêmicos complexos, como inflamação crônica, alterações nutricionais e disfunções musculares intrínsecas, que vão além da inatividade física e do comportamento sedentário.
Perfil Epidemiológico das Internações e Óbitos por Pneumonia em Idosos em Santa Catarina (2018–2024)
Ana Julia Graf (UNIFEBE), Martina Werner Siebert (UNIFEBE), Giovanna Marchetti (UNIFEBE), Giovana Busnardo Voltolini (UNIFEBE), Beatriz Luana Baratter do Carmo (UNIFEBE), Pedro Carrion Carvalho (UNIFEBE), Rodrigo Kerber (UNIFEBE)
A pneumonia é uma das principais causas de morbimortalidade em idosos, sendo caracterizada por manifestações clínicas menos típicas nessa população, como ausência de febre ou leucocitose, o que dificulta o diagnóstico precoce e contribui para pior prognóstico. Estudos prévios demonstram que idade avançada, fragilidade e comorbidades cardiorrespiratórias são fatores determinantes na evolução desfavorável desses pacientes. O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico das internações e dos óbitos por pneumonia em indivíduos com 60 anos ou mais no estado de Santa Catarina, no período de 2018 a 2024, considerando ainda o caráter de atendimento, sexo e tempo médio de permanência hospitalar. Trata-se de estudo ecológico, retrospectivo e descritivo, baseado em dados públicos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Foram avaliadas internações e óbitos por pneumonia, além da média de permanência hospitalar, estratificados por ano, sexo e caráter de atendimento. No período analisado, registraram-se 93.310 internações e 16.075 óbitos. Observou-se queda expressiva das internações em 2020 (9.146) e 2021 (8.230), seguida de aumento nos anos subsequentes, atingindo 17.418 internações em 2024. O número de óbitos acompanhou padrão semelhante, com redução em 2020 (1.854) e 2021 (1.880), mas aumento significativo em 2022 (2.583) e 2024 (2.773). A letalidade hospitalar variou entre 15,5% (2018) e 22,8% (2021). O teste do qui-quadrado demonstrou diferença estatisticamente significativa entre os anos quanto à proporção de óbitos por internações (p < 0,001). A análise por sexo e caráter de atendimento revelou predomínio de óbitos em atendimentos de urgência, especialmente em indivíduos com 80 anos ou mais, sem diferença consistente entre homens e mulheres. O tempo médio de permanência foi maior em internações eletivas em ambos os sexos, com picos em 2021 e reduções posteriores. Conclui-se que a pneumonia em idosos em Santa Catarina representa importante desafio de saúde pública, com impacto expressivo em hospitalizações e mortalidade. A maior letalidade observada em 2020 e 2021 sugere efeito adicional da pandemia sobre a gravidade dos casos e a capacidade de resposta do sistema de saúde, ressaltando a necessidade de estratégias voltadas ao diagnóstico precoce, prevenção e manejo adequado nessa população vulnerável.
Perfil farmacológico da população em tratamento para hipertensão pulmonar primária no Paraná
Lucas Cesar Perin Guimarães, Betânia Zulian de Lima (Universidade Federal do Paraná), João Adriano de Barros (Universidade Federal do Paraná)
Introdução: Hipertensão pulmonar (HP) é uma condição resultante da elevação da pressão sanguínea nas artérias pulmonares, podendo ser primária ou secundária. O perfil farmacoepidemiológico dessa doença na população brasileira permanece incerto. Objetivo: Caracterizar o perfil farmacológico de pacientes com HP primária, com a finalidade de investigar possíveis fatores de risco e guiar futuros protocolos clínicos. Métodos: Estudo transversal que incluiu 313 pacientes em protocolo clínico de tratamento para HP primária em serviço público de fornecimento de medicamentos no Paraná entre 2011 e 2023. As variáveis quantitativas e categóricas foram submetidas a análises estatísticas utilizando-se o software IBM SPSS, com significância estatística definida em p<0,05. Resultados: Ao total, 229 (73,16%) pacientes eram do sexo feminino. A média de idade da amostra foi de 48,76 ± 21,65. Entre os medicamentos, a sildenafila 20 mg foi o mais prescrito, sendo utilizado por 289 (92,33%) pacientes, seguido da bosentana 125mg (18,85%), ambrisentana 5mg (14,06%), bosentana 62,5mg (9,90%), ambrisentana 10mg (5,43%) e iloprosta 10mcg/ml (4,79%). Ao total, 207 (66,13%) pacientes recebiam apenas um medicamento, 76 (24,29%) recebiam dois medicamentos e 30 (9,58%) recebiam três medicamentos ou mais. Não houve diferença estatisticamente significativa entre variáveis associadas e ocorrência de terapia combinada. Conclusão: Os dados evidenciam a predominância do sexo feminino e faixa etária média de 48,76 anos. A sildenafila destacou-se como o medicamento mais prescrito, seguido de bosentana e ambrisentana. A maioria dos pacientes fazia uso de apenas um fármaco. Não houve diferença estatisticamente significativa entre variáveis associadas e ocorrência de polifarmácia.
Perfil farmacológico de pacientes em protocolo clínico de hipertensão pulmonar no Paraná
Lucas Cesar Perin Guimarães, Betânia Zulian de Limas (Universidade Federal do Paraná), João Adriano de Barros (Universidade Federal do Paraná)
Introdução: Hipertensão pulmonar (HP) é uma condição resultante da elevação da pressão sanguínea nas artérias pulmonares. Esse estudo visa caracterizar o perfil farmacológico de pacientes com HP, com a finalidade de analisar o padrão contemporâneo desses pacientes, investigar possíveis fatores de risco e guiar futuros protocolos clínicos. Materiais e métodos: Estudo transversal que incluiu 560 pacientes em protocolo clínico de HP em serviço público de fornecimento de medicamentos no Paraná entre 2011 e 2023. As variáveis quantitativas e categóricas foram submetidas a análises estatísticas utilizando-se o software IBM SPSS, com significância estatística definida em p<0,05. Resultados: A maioria da amostra possuía diagnóstico de hipertensão pulmonar primária (CID I27.0) (55,89%), seguido de outras doenças pulmonares do coração especificadas (CID 127.8) (23,93%) e outra hipertensão pulmonar secundária (CID I27.2) (20,18%). Ao total, 396 (70,71%) pacientes eram do sexo feminino. A média de idade da amostra foi de 43,53 ± 23,42. Entre os medicamentos, a sildenafila 20 mg foi o mais prescrito, sendo utilizado por 289 pacientes com CID I27.0 (92,33%), 94 com CID I27.2 (83,19%) e 119 com CID I27.8 (88,81%). Em sequência, os medicamentos mais prescritos foram Bosentana 125mg (113), Bosentana 62,5mg (85), Ambrisentana 5mg (62), Ambrisentana 10mg (25) e Iloprosta 10mcg/ml (25). Ao total, 364 (65%) recebiam um medicamento, 149 (26,61%) dois medicamentos e 47 (8,29%) três medicamentos ou mais. Não houve diferença estatisticamente significativa entre variáveis associadas e ocorrência de terapia combinada. Conclusão: Os dados evidenciam a predominância de hipertensão pulmonar primária, com maior incidência em mulheres e faixa etária média de 43,53 anos. A sildenafila destacou-se como o medicamento mais prescrito, e a maioria dos pacientes fazia uso de apenas um fármaco, sem associação com terapia combinada.
Pleura hemática em cadáver: entre a anatomia e a clínica torácica
Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Maria Fernanda Tomazi Varela (FURB), Luiz Felipe Viafore Dubois (FURB), Mary Anne Pasta de Amorim (FURB)
A dissecação anatômica frequentemente revela alterações que ultrapassam a normalidade morfológica e acionam o raciocínio clínico. Entre essas, os derrames pleurais hemáticos e espessos destacam-se pela ampla gama de diagnósticos diferenciais — incluindo hemotórax crônico não drenado, empiema organizado, tuberculose pleural e neoplasias — e pelo impacto sobre a mecânica respiratória. O presente relato descreve o achado de secreção pleural hemática espessa em cadáver masculino adulto durante atividade acadêmica, discutindo hipóteses etiológicas e implicações diagnósticas e terapêuticas. A observação ocorreu em aula prática de Anatomia Topográfica, mediante abertura da cavidade torácica, inspeção das pleuras e parênquima pulmonar e registro macroscópico sistematizado. Identificou-se volumosa coleção espessa, vermelho-enegrecida e parcialmente coagulada, predominante no hemitórax esquerdo, com aderências focais à pleura parietal e efeito compressivo sobre o pulmão ipsilateral. O parênquima adjacente apresentava coloração heterogênea e consistência aumentada, compatíveis com processo inflamatório crônico. As principais hipóteses incluem hemotórax crônico organizado, empiema fibrinoso em fase avançada, tuberculose pleural e neoplasias pleuropulmonares com exsudato hemático. Em contexto assistencial, quadros semelhantes exigem frequentemente videotoracoscopia (VATS) ou toracotomia com decorticação, podendo requerer ressecções segmentares ou lobares e estadiamento linfonodal em casos oncológicos. Conclui-se que o registro cadavérico de secreção pleural hemática exemplifica como processos inflamatórios e hemorrágicos remodelam a dinâmica torácica, além de evidenciar a importância do diagnóstico e manejo precoces para prevenir evolução a empiemas fibrinosos e sequelas estruturais. Vivenciado no ambiente acadêmico, o achado transcende a descrição anatômica e constitui experiência formativa que integra fisiopatologia, diagnóstico diferencial e planejamento cirúrgico, fortalecendo competências essenciais à prática em pneumologia e cirurgia torácica.
Pneumoconiose dos Trabalhadores do Carvão com Fibrose Maciça Progressiva: Relato de Caso em Região de Mineração do Sul de Santa Catarina
Manoela De Freitas Siqueira (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Iara de Oliveira Silva (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Luigi Parise Cenci (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Isabela Vieira Schmitz (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Carolina Carvalho de Souza (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Sofia de Stefani Milioli (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Renato Matos (Pneuma Medicina Respiratória)
A Pneumoconiose dos Trabalhadores do Carvão (PTC) é uma doença ocupacional causada pela inalação crônica de poeira de carvão, responsável por processo inflamatório persistente e fibrose pulmonar. Apesar de medidas preventivas, permanece prevalente em regiões de mineração no Sul do Brasil, sobretudo em Santa Catarina. A evolução pode culminar em fibrose maciça progressiva (FMP), forma avançada e irreversível, de grande impacto funcional e prognóstico reservado. Relatos regionais contribuem para a vigilância epidemiológica e melhor compreensão clínica da doença.
Homem de 70 anos, ex-tabagista, com histórico ocupacional de 12 anos em mineração subterrânea na região de Criciúma (SC), procurou atendimento por agravamento de tosse e dispneia aos esforços moderados (mMRC 2). Apresentava tosse seca noturna, expectoração hialina ocasional e sibilância esporádica, sem febre ou hemoptise. Ao exame físico, encontrava-se em bom estado geral, eupneico, com SpO₂ de 96% em ar ambiente e sibilos expiratórios difusos. A tomografia computadorizada de tórax revelou múltiplos nódulos centrolobulares, massas peri-hilares bilaterais com calcificações, bronquiectasias difusas e retração volumétrica dos lobos superiores, compatíveis com FMP.
As provas de função pulmonar demonstraram piora no seguimento: VEF1 de 3,06 L (VEF1/CVF 0,73) em 2009 para 2,16 L (62%) e relação VEF1/CVF 0,57 em 2025, associado à redução da DLCO (46%), configurando distúrbio ventilatório obstrutivo leve e redução moderada da DLCO. Novo exame radiológico mostrou progressão das lesões fibróticas com massas heterogêneas nos lobos superiores. O paciente segue em acompanhamento ambulatorial, em uso de broncodilatadores de longa ação e corticoide inalatório, visando controle sintomático e prevenção de exacerbações.
O caso ilustra a progressão da PTC para FMP, ressaltando a evolução lenta e irreversível mesmo após a interrupção da exposição ocupacional. O diagnóstico baseia-se na história clínica, ocupacional e em exames complementares, devendo excluir de diagnósticos diferenciais como micobacterioses e neoplasias. Considerando a ausência de terapias capazes de reverter a fibrose, o manejo permanece centrado no suporte clínico e na prevenção de complicações. Destaca-se, assim, a relevância de relatos para o reconhecimento precoce e vigilância de trabalhadores expostos.
Pneumonia em Organização: 2 Relatos de Casos Clínicos e Breve Revisão
Ana Clara Flor da Costa (HU UFSC), Raissa Martins da Silva (Hospital Universitário UFSC), Luiz Fernando de Souza Santos (Hospital Universitário UFSC), Pedro Henrique Albuquerque (Hospital Universitário UFSC), Manuela Felisbino Brisot (Hospital Universitário UFSC), Leila John Marques Steidle (Hospital Universitário UFSC)
Introdução: A Pneumonia em Organização (PO), anteriormente denominada Pneumonia em Organização por Bronquiolite Obliterante (BOOP), é uma doença pulmonar intersticial, geralmente idiopática, definida por inflamação e obstrução de bronquíolos e alvéolos por tecido de granulação. Manifesta-se com tosse seca, dispneia aos esforços e febre. O tratamento com corticoides geralmente resulta em melhora clínica expressiva. Recidivas podem ocorrer em até 50% dos casos.
Relato de Caso 1: Mulher, 71a, asmática, tabagista passiva, apresentando dispneia progressiva (mMRC 3), tosse produtiva, sudorese, cefaleia, tontura e despertares noturnos por tosse há 60 dias. História de exposição a aves. Tomografia de tórax (TCT): consolidações e opacidades em vidro fosco bilaterais, algumas nodulares e migratórias. Espirometria: distúrbio restritivo leve (CVF 76%). LBA: predomínio neutrofílico (23%), cultura negativa para micobactérias. FAN 1:160, autoanticorpos específicos ausentes. Demais sorologias negativas. Relato de Caso 2: Mulher, 62a, tabagista 20a/m, sem comorbidades, com dispneia progressiva há dois meses, inicialmente aos grandes esforços, evoluindo para médios. Referia tosse produtiva inicial e perda ponderal, sem febre. Exposição a mofo e aves. Recebeu diversos antibióticos, sem resposta. TCT: consolidações bilaterais nos lobos inferiores e enfisema centrolobular. LBA negativo para BAAR, bactérias, fungos e células neoplásicas; sem citologia diferencial. Espirometria normal, com redução discreta da difusão (DLCO: 59%). FAN 1:160 e ANCA 1:320, sem autoanticorpos específicos.
Discussão: Os casos foram avaliados por equipe multidisciplinar (pneumologia, reumatologia, radiologia e patologia), o que auxiliou na exclusão diagnóstica e definição de PO. No caso 1, a paciente apresentou melhora com metilprednisolona seguida de prednisona oral, porém recidivou após suspensão por conta própria; encontra-se em desmame gradual após novo ciclo, com melhora clínica e radiológica. No caso 2, houve resposta clínica e radiológica satisfatória à prednisona, permanecendo em desmame ambulatorial. A PO costuma responder bem ao uso de glicocorticoides por 6 a 12 meses. No entanto a suspensão precoce do tratamento pode implicar em recidiva da doença. Vale destacar que pacientes com PO devem ser monitorados regularmente até a resolução completa desta condição clínica.
Pneumonia em Santa Catarina: Perfil de Mortalidade e Tendências entre 2014 e 2024
Wagner de Almeida Soares (UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina), Lucas Almeida Soares (Universidade do Sul de Santa Catarina), Roberta Cunha da Silveira (Universidade do Sul de Santa Catarina), Hugo Barbosa Alencar (Universidade do Sul de Santa Catarina), Pilar Rodrigues Couto (Médica Pneumologista Pediátrica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)
INTRODUÇÃO:
A pneumonia é uma infecção aguda do parênquima pulmonar e representa uma das principais causas de morbimortalidade global, especialmente em crianças e idosos. A doença impõe um fardo substancial aos sistemas de saúde, sendo causa primária de hospitalizações e óbitos por infecções. Apesar de sua relevância, há escassez de estudos recentes sobre a tendência temporal da mortalidade por pneumonia em nível estadual no Brasil, dificultando a avaliação do impacto de eventos epidemiológicos, como a pandemia de COVID-19. Este estudo analisa o perfil epidemiológico e a tendência da mortalidade por pneumonia em Santa Catarina entre 2014 e 2024.
OBJETIVO:
Descrever o perfil de mortalidade e analisar a tendência temporal de óbitos por Pneumonia na população do estado de Santa Catarina entre 2014 e 2024.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo transversal e de série temporal, baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A pesquisa analisou as notificações de óbitos por pneumonia na população de Santa Catarina entre os anos 2014-2024, considerando variáveis como total de óbitos por ano, sexo, faixa etária, local de ocorrência e etnia. A análise foi feita por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS:
Entre 2014 e 2024, Santa Catarina registrou 28.185 óbitos por pneumonia. O ano de 2024 teve a maior incidência (11,31%), seguido por 2022 (10,75%) e 2023 (9,97%), e os menores valores ocorreram em 2014 (7,24%) e 2015 (7,25%). A maioria das vítimas era masculina (51,61%) e branca (90,76%), seguida por pardas (4,03%) e pretas (1,76%). As faixas etárias mais atingidas foram 80 anos ou mais (43,89%), 70 a 79 anos (24,91%) e 60 a 69 anos (15,51%), evidenciando maior vulnerabilidade entre os idosos.
CONCLUSÃO:
A mortalidade por pneumonia em Santa Catarina, entre 2014 e 2024, registrou 28.185 óbitos, concentrando-se principalmente em idosos, que representam mais de 84% das mortes, e com leve predominância no sexo masculino. Observou-se aumento nos anos finais da série histórica (2022-2024), possivelmente associado a eventos epidemiológicos recentes, como a pandemia de COVID-19, que podem ter impactado a suscetibilidade a infecções respiratórias graves. Esses achados reforçam a importância da vigilância epidemiológica contínua e do fortalecimento de estratégias de prevenção, incluindo vacinação antipneumocócica e anti-influenza, especialmente direcionadas aos grupos mais vulneráveis.
Pneumonias de Repetição em Paciente Asmático Grave Utilizando Tezepelumabe há 4 anos e meio: relato de caso
Beatriz Lima Carpilovsky, Pedro Henrique Redin Borgo (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Heloisa Rosskamp Alberton (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Miguel Garcia Grupelli (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Luis Fernando Spinelli (Hospital Dia do Pulmão), Luiz Otávio Rodrigues Simões Gomes (Hospital Dia do Pulmão), Marina Andrade Lima (Hospital Dia do Pulmão)
Introdução:
Nos últimos anos, novas estratégias terapêuticas vêm transformando o manejo da asma grave, reduzindo a morbimortalidade associada. Entre elas, destacam-se os imunobiológicos, fármacos de ação direcionada que modulam respostas imunológicas específicas, proporcionando queda expressiva nas exacerbações. Apesar de seu potencial, ainda faltam estudos robustos que avaliem a segurança do uso prolongado.
Relato de Caso:
Paciente masculino, 57 anos, asmático, hipertenso e diabético (diagnosticado em julho/22). Em uso contínuo de tezepelumabe 210 mg mensal desde novembro/19, formoterol/budesonida 12/400 mcg três vezes ao dia, beclometasona HFA 200 mcg duas vezes ao dia associada a ipratrópio, além de montelucaste 10 mg diário. Entre 2020-22, apresentou episódios de pneumonia em LIE tratados ambulatorialmente. Em 2022, teve abscesso anal com abordagem cirúrgica. Em 2023, desenvolveu dispneia intensa, febre e tosse produtiva, com descompensação da asma. Internado, a TCAR mostrou nódulos centrolobulares, consolidações, vidro fosco e árvore em brotamento. Broncoscopia evidenciou mucosa edemaciada e friável em árvore brônquica direita e LSD; LBA BAAR negativo, sem definição etiológica. Tratado com piperacilina-tazobactam e prednisona 40 mg, evoluiu bem e recebeu alta. Dez dias depois, retornou com dispneia e tosse sem febre. RX torácico revelou lesão cavitada em LSD. Iniciado meropenem. AngioTC mostrou consolidações e vidro fosco periférico em LSD, com cavitação, septos internos e nível hidroaéreo, além de árvore em brotamento em LIE, sugerindo disseminação broncogênica; sem sinais de TEP. Nova broncoscopia detectou secreção purulenta em brônquio posterior de LSD, com crescimento de S. aureus MRSA. Terapia ajustada para linezolida e prednisona 40 mg. Durante internação não houve crise asmática. TCAR de controle evidenciou regressão das lesões em LSD, sem cavitação residual.
Discussão:
O tezepelumabe tem eficácia comprovada na redução de exacerbações da asma grave. O paciente, em uso desde 2019 associado a doses elevadas de corticoide inalatório, apresentou pneumonias recorrentes e, recentemente, infecção por S. aureus com cavitação pulmonar. Isso suscita a hipótese de maior vulnerabilidade a infecções repetidas durante o uso prolongado do fármaco, especialmente em doses regulares. Ressalta-se que os dados sobre segurança a longo prazo ainda são escassos, tornando imprescindível ampliar investigações nesse contexto.
Prevalência do uso de dispositivos eletrônicos para fumar em estudantes de uma Universidade do litoral norte de Santa Catarina
Rafael Silvestre Lozano Medina (UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí), Giancarlo Santos da Costa (UNIVALI), Renata Cristina Teixeira Pinto Viana (UNIVALI)
O crescimento do uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) entre jovens tem implicações significativas para a saúde pública, especialmente em ambientes universitários, onde a experimentação de substâncias é favorecida por fatores sociais e comportamentais. Este estudo estimou a prevalência de uso de DEFs e buscou identificar fatores associados entre estudantes de uma Universidade do litoral norte de Santa Catarina. Trata-se de uma pesquisa transversal, de abordagem quantitativa, realizada com 412 estudantes que responderam voluntariamente a um questionário eletrônico. Foram conduzidas análises descritivas, testes de associação (qui-quadrado) e cálculo de odds ratio (OR). Os respondentes com faixa etária de 18 a 24 anos representaram 72,3% da amostra, seguida por 18,2% entre 25 a 34 anos e, em menor proporção, maiores de 35 anos com 9,5%. Se autodeclararam brancos 83,5%, seguido por pardos 11,4% e pretos 3,9%. Com predomínio de pessoas do sexo feminino (78,2%), seguidas por masculino (20,9%). A prevalência de experimentação de DEFs foi de 62,6%, maior em comparação a outros estudos como de Godói et al. (2024) e Matos et al (2024) de 21,8% e 56,8%, respectivamente. Inclusive superou a experimentação de cigarros convencionais que foi de 36,4%. Observou-se associação estatisticamente significativa entre experimentação de DEFs e história de experimentação de cigarro tradicional (p < 0,001), bem como entre experimentação de DEFs e não ter participado de palestras educativas (p = 0,006). A maior parte dos participantes (93,9%) relatou conhecer os riscos do uso de DEFs, mas apenas 22,3% referiram ter participado de ações educativas sobre o tema, sugerindo uma lacuna entre o conhecimento percebido e a formação preventiva formal. Sobre os fatores motivadores para o uso, foi verificado uma grande influência relacionada a aspectos sociais, sensoriais e de local de uso. Foi observado um cenário de elevada experimentação entre universitários, com indícios de que os DEFs estejam substituindo progressivamente o cigarro convencional. Além disso, destaca-se a relevância de estratégias educativas institucionais, sobretudo presenciais, uma vez que o conhecimento autodeclarado não se mostrou suficiente para evitar a experimentação. O estudo também aponta para a necessidade de aprofundar investigações sobre os fatores que influenciam o uso cotidiano, as motivações específicas para a adesão aos DEFs e os efeitos das campanhas preventivas em populações universitárias.
Pulmão esquerdo trilobado: relato de caso anatômico
Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Maria Fernanda Tomazi Varela (FURB), Luiz Felipe Viafore Dubois (FURB), Mary Anne Pasta de Amorim (FURB)
A dissecação anatômica permanece como recurso essencial para o ensino médico por possibilitar a observação direta das variações corporais e a integração entre morfologia e prática clínica. O pulmão esquerdo, classicamente descrito com dois lobos, pode apresentar anomalias raras de segmentação brônquica e fissuras acessórias, originando um terceiro lobo. Esses achados têm origem embriológica no período de ramificação dos brotos pulmonares e, embora geralmente assintomáticos, possuem implicações relevantes em contextos diagnósticos e terapêuticos. O presente estudo teve como objetivo relatar a identificação de um pulmão esquerdo trilobado em cadáver adulto durante atividade prática de Anatomia Topográfica, ressaltando suas particularidades anatômicas e a aplicabilidade clínica desse conhecimento. O achado foi documentado por meio de abertura da cavidade torácica, inspeção macroscópica das fissuras e análise do trajeto brônquico e vascular. Observou-se a presença de três lobos distintos, separados por duas fissuras completas: uma oblíqua, típica, e outra acessória horizontal, semelhante à fissura
horizontal do pulmão direito. O lobo médio apresentava suprimento brônquico próprio, compatível com a disposição segmentar da região. Macroscopicamente não foram encontradas alterações patológicas, sugerindo tratar-se de variante anatômica isolada. Do ponto de vista clínico, a identificação de fissuras acessórias pode gerar interpretações equivocadas em exames de imagem, simulando atelectasias ou lesões fibróticas; em cirurgia torácica, altera o planejamento de lobectomias ou transplantes, pela modificação do pedículo e da drenagem segmentar; em patologia, pode interferir na disseminação de processos infecciosos ou neoplásicos, além de repercutir no estadiamento oncológico. A presença de um lobo adicional, portanto, transcende a
curiosidade anatômica, constituindo achado com impacto direto na prática médica. Conclui-se que a dissecação anatômica, ao revelar variantes como o pulmão esquerdo trilobado, reforça a importância do estudo aplicado da anatomia, estimulando a correlação entre embriologia, radiologia, cirurgia e clínica, e consolidando competências essenciais na formação do futuro médico.
Relato de casos em Aspergilose Broncopulmonar Alérgica (ABPA): diagnóstico e manejo clínico
Andria Machado da Silva (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Heda Mara Scmidt (Hospital Universitário UFSC (HU-UFSC)), Elaine Cristina Caon de Souza Bulsing (Hospital Universitário UFSC (HU-UFSC)), Andria Machado da Silva (Hospital Universitário UFSC (HU-UFSC))
INTRODUÇÃO: Aspergilose Broncopulmonar Alérgica (ABPA) é uma doença pulmonar causada pela reação de hipersensibilidade ao Aspergillus fumigatus, caracteriza-se por obstrução brônquica, acúmulo de muco e inflamação, sendo comum em asmáticos. OBJETIVO: Apresentar três casos de pacientes com asma grave e ABPA, características clínicas, radiológicas, laboratoriais e manejo clínico. MÉTODO: Relato de caso, com pacientes com asma grave em acompanhamento ambulatorial em Hospital Universitário. De outubro à dezembro de 2024, foram coletados dados a partir de prontuário. RESULTADOS: CASO 1: Masculino, 56 anos. Em tratamento prévio para ABPA com antifúngico. No último ano duas internações hospitalares. Em uso diário: dose equivalente de budesonida 2400mcg, formoterol 24mcg, glicopirronio 50mcg e anti IL-5 mensal (há mais de um ano). Exames: IgE total de 2523 UI/ml, tomografia computadorizada (TC) de tórax: bronquiectasias cilíndricas e broncopatia inflamatória. Espirometria com distúrbio ventilatório obstrutivo grave com resposta ao broncodilatador (BD). CASO 2: Feminino, 55 anos. Em uso diário: dose equivalente de budesonida 1200mcg, formoterol 36mcg, glicopirronio 50mcg e anti IL-5 mensal (há mais de um ano). Exames: IgE total acima de 2000 UI/ml, teste cutâneo para aspergillus positivo, TC: aprisionamento aéreo, plugs mucosos e broncopatia inflamatória. Espirometria com limitação moderada ao fluxo de ar com resposta ao BD. CASO 3: Masculino, 54 anos. Em uso diário: dose equivalente de budesonida 2400mcg, formoterol 48mcg. Encaminhado para início de imunobiológico. Exames: IgE total de 6576 UI/ml. TC: espessamento difuso de paredes brônquicas. Espirometria com limitação moderada ao fluxo de ar, sem resposta ao BD. Todos os pacientes apresentaram asma desde a infância, exame de IgE específica para aspergillus positivo, baixo controle da doença. É reforçada a importância do diagnóstico precoce da ABPA, realização de exames complementares para o rastreamento e intervenções terapêuticas que minimizem a progressão da doença e comprometimento pulmonar. Os pacientes tiveram tratamento antifúngico, terapia inalatória otimizada, associações de broncodilatadores e corticoide inalatório, além de tratamento com imunobiológico (mepolizumabe). CONCLUSÃO: A ABPA deve ser incluída no diagnóstico diferencial de pacientes com asma de difícil controle ou grave, principalmente naqueles que apresentem bronquiectasias e plugs mucosos.
Resposta clínica ao uso do Trikafta em paciente com Fibrose Cística
Letícia de Malfussi Travassos Gomes (UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense), Ana Clara de Melo Freitas (Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC), Lorena Marino (Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC), Isadora Ribeiro Daufenbach (Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC), Daniel Rabello Netto (Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC), Eduardo de Castro Neto (Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC), Renato Matos (Clinica Pneuma)
INTRODUÇÃO:
A fibrose cística (FC) é uma doença causada por mutação no gene da proteína CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator), responsável pelo transporte de íons em células epiteliais. A alteração torna as secreções respiratórias espessas, aumentando a suscetibilidade a sintomas e infecções respiratórias. A terapia tripla (Trikafta) é uma opção terapêutica composta por elexacaftor, tezacaftor e ivacaftor, que atuam como moduladores da CFTR.
RELATO DE CASO:
JMM, 31, masculino, diagnóstico de FC na infância, heterozigoto para mutação deltaf508 em uso de alfadornase e salina hipertônica. TC tórax prévia (2019) evidenciava espessamento difuso de paredes brônquicas, bronquiectasias, parênquima pulmonar com atenuação mosaico, inferindo aprisionamento aéreo e/ou bronquiolite. Pletismografia realizada em Junho/24 apresentava CVF 5,75 (97%) > 5,83 (98%) 1%; VEF1 4,19 (87%) > 4,39 (91%) 5% Rel 0,72 CPT 7,72 SRaw 10,3 DLCO 36,3 (100%).
Apesar da estabilidade clínica e funcional, optado pelo uso de Trikafta em Setembro/24 e evoluiundo com ganho ponderal e melhora do quadro radiológico e funcional (Julho/25): Pletismografia apresentava CVF 6,4 (109%) > 6,42 (109%) 0%; VEF1 4,46 (93%) > 4,89 (102%) 9%. Rel 0,69 CPT 8,68 sRaw 7,7 DLCO 37,8 (105%), enquanto a TC tórax de controle evidencia bronquiectasias cilíndricas disseminadas bilateralmente, associadas a estriações fibrorretráteis em ápices. Espessamento difuso de paredes brônquicas. Pequenas imagens nodulares centroacinares, em "árvore em brotamento", no segmento lingular lateral, sugerindo doença de pequenas vias aéreas.
DISCUSSÃO
O início da terapia tripla — primeira linha para pacientes com FC maiores de 2 anos e com pelo menos uma mutação sensível — evidenciou melhora clínica (resolução da tosse e ganho ponderal), funcional (VEF1 de 87% para 102%) e impactou até mesmo a evolução radiológica da doença. Estes achados obtidos na prática corroboram as evidências apresentadas em ensaios clínicos que avaliaram o uso da terapia tripla.
CONCLUSÃO
A terapia tripla (Trikafta), composta de moduladores da CFTR, que atuam melhorando a produção, o processamento intracelular e a função da proteína defeituosa, demonstrou-se eficaz no controle clínico e na melhora funcional de um paciente com significativo tempo de evolução da FC.
Ressecção e reconstrução traqueal em contexto inflamatório: análise cadavérica e implicações cirúrgicas
Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB), Maria Fernanda Tomazi Varela (FURB), Luiz Felipe Viafore Dubois (FURB), Mary Anne Pasta de Amorim (FURB)
Os tumores primários da traqueia são raros, correspondendo a 0,1–0,4% das neoplasias malignas e cerca de 2% das respiratórias. Apesar da baixa incidência, representam desafio técnico devido à proximidade com estruturas vitais e ao limite reduzido de ressecção compatível com reconstrução segura, sendo a extensão ressecável e a tensão anastomótica fatores prognósticos. Processos inflamatórios crônicos torácicos, como hemotórax organizado, acrescentam barreiras adicionais ao planejamento cirúrgico. A dissecação cadavérica possibilita estudar a anatomia detalhada da traqueia e simular dificuldades enfrentadas na prática. Este relato descreve a análise da traqueia em cadáver masculino adulto, destacando relações anatômicas, achado inflamatório associado e implicações cirúrgicas. O estudo ocorreu em prática de Anatomia Topográfica, com dissecação cervicotorácica e registro dos achados. A traqueia media cerca de 11 cm, estendendo-se da sexta vértebra cervical à quinta torácica, em relação posterior com esôfago, anterior com glândula tireoide e vasos cervicais, lateral com nervos laríngeos recorrentes e em íntimo contato com arco aórtico e seus ramos. A cavidade torácica apresentava secreção espessa, hemática e fibrinosa no hemitórax esquerdo, compatível com processo inflamatório crônico, sugerindo empiema organizado ou hemotórax antigo. Essas alterações favorecem aderências, reduzem a mobilidade pulmonar e dificultam o acesso à traqueia. Clinicamente, comprometem margens de ressecção, limitam a exposição e aumentam complicações. A literatura aponta ressecções seguras de até 4–6 cm, sendo a deiscência anastomótica crítica quando esse limite é excedido; em contexto inflamatório, essa margem é ainda menor, exigindo cautela técnica. Conclui-se que a cirurgia traqueal oncológica demanda mais que medir o segmento ressecável, exigindo avaliação das condições locais. Processos inflamatórios crônicos configuram fator limitante adicional, elevando o risco de lesão adjacente e deiscência. A dissecação anatômica, ao reproduzir cenários próximos da prática, constitui recurso essencial para consolidar conhecimento, treinar habilidades e desenvolver raciocínio crítico diante da complexidade da cirurgia traqueal.
Secreção pleural espessa em cadáver: implicações didáticas e clínicas
Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB - Universidade Regional de Blumenau), Francisco Fabiano Duarte Geremias (FURB), Maria Fernanda Tomazi Varela (FURB), Luiz Felipe Viafore Dubois (FURB), Mary Anne Pasta de Amorim (FURB)
A dissecação anatômica é prática fundamental na formação médica, pois permite a análise minuciosa das estruturas corporais e promove a integração entre a anatomia normal e a patológica. Achados incidentais durante esse processo enriquecem o ensino ao possibilitar a correlação entre alterações macroscópicas e condições clínicas, ampliando a compreensão dos discentes. Entre tais achados, as alterações pleurais assumem destaque por associarem-se a processos infecciosos crônicos, complicações de pneumonias, hemotórax antigo ou empiema organizado. Este relato descreve secreção pleural hemática espessa observada em cadáver masculino adulto durante atividade acadêmica, ressaltando sua relevância diagnóstica e didática. A observação foi realizada em prática de Anatomia Topográfica, com abertura da cavidade torácica e análise sistemática das estruturas. O achado foi documentado por inspeção direta e registro descritivo. Identificou-se volumosa coleção pleural espessa, de coloração hemática enegrecida e consistência parcialmente coagulada, localizada no hemitórax esquerdo. O pulmão adjacente exibia heterogeneidade de coloração, áreas de consistência aumentada e indícios de inflamação crônica. Esses aspectos sugerem empiema pleural organizado ou hemotórax antigo, ambos caracterizados por acúmulo persistente de secreção fibrinopurulenta ou hemática, associados a aderências e restrição da expansibilidade pulmonar. Conclui-se que a dissecação anatômica, ao revelar alterações patológicas reais, transcende a descrição estrutural e estimula o raciocínio clínico-cirúrgico. O achado exemplifica a importância da correlação entre anatomia, patologia e prática médica, reforçando competências essenciais à formação profissional.
Sedação inalatória versus sedação intravenosa em pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA): uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados
Leonardo Andrighetti (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), João Victor Ramos Cruz (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Júlia Stolle Rodrigues (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Ivanir Junior Andrighetti (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Mariangela Pimentel Pincelli (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC))
Introdução: A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é uma condição crítica, comumente manejada com ventilação mecânica e sedação contínua. A sedação inalatória tem sido associada a efeitos anti-inflamatórios e broncodilatadores, sugerindo possível benefício clínico nessa população. No entanto, a evidência sobre existência de desfechos clínicos relevantes é limitada.
Objetivo: Esta meta-análise de ensaios clínicos randomizados teve como objetivo avaliar se a sedação inalatória, em comparação com a sedação intravenosa padrão, melhoraria desfechos de mortalidade, tempo de ventilação mecânica e tempo de UTI.
Métodos: Este estudo foi registrado na PROSPERO (CRD420251065105). Realizamos uma busca sistemática nas bases PubMed, Embase, Cochrane e Scopus por ensaios clínicos randomizados que comparassem sedação inalatória e intravenosa em adultos com SDRA internados em UTI. Os desfechos primários foram mortalidade (em 28 dias e no maior tempo de seguimento), tempo livre de ventilação mecânica e tempo de permanência em UTI. Os desfechos secundários incluíram relação PaO₂/FiO₂, PaCO₂ e valores de creatinina. Uma análise de subgrupo foi conduzida para pacientes com SDRA secundária à COVID-19 para os desfechos de mortalidade e tempo livre de ventilação mecânica. As análises foram realizadas com o software RevMan 5.4, e a heterogeneidade foi avaliada pelo índice I².
Resultados: Foram incluídos quatro estudos, totalizando 814 pacientes, dos quais 406 (49,9%) receberam sedação inalatória. A sedação inalatória foi associada a maior tempo de permanência na UTI (diferença média: 2,91 dias; IC95%: 1,70 a 4,11; p < 0,00001) e menos tempo livre de ventilação mecânica (diferença média: -2,19 dias; IC95%: -3,87 a -0,52; p = 0,01), sem diferenças significativas nos desfechos de mortalidade, independente do tempo de seguimento, e demais desfechos secundários. No subgrupo de pacientes com COVID-19, os achados foram consistentes com a análise geral.
Conclusão: Esta meta-análise sugere que a sedação inalatória, embora promissora do ponto de vista fisiológico, está associada a maior tempo de ventilação mecânica e permanência em UTI em pacientes com SDRA, sem benefício em termos de mortalidade. Estudos futuros devem investigar subgrupos específicos e avaliar a possibilidade de impacto positivo em desfechos clínicos.
Sindrome de Alagille e Pneumonia Adquirida na Comunidade Grave por Rinovirus confundida com Tromboembolismo Pulmonar - Relato de caso
Maria Alejandra Aviles Chavez (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Lucas Rafael Bilibio (HU-UFSC), Patricia Luise Costa de Freitas (HNR), Heda Mara Schmidt (HNR e HU-UFSC), Israel Silva Maia (HNR), Leila John Marques Steidle (HU-UFSC), Mariangela Pimentel Pincelli (HNR e HU-UFSC)
A Síndrome de Alagille (ALGS) é uma doença genética autossômica dominante, multissistêmica, que afeta fígado, coração, esqueleto, olhos e face. Caracteriza-se por colestase, anomalias cardiovasculares envolvendo artérias pulmonares, vértebras em borboleta, embriotoxon posterior e face triangular com hipertelorismo. Pode variar desde apresentações leves até formas graves, com mortalidade de até 10%. O presente relato busca ressaltar a importância do diagnóstico de doenças raras que podem simular tromboembolismo pulmonar (TEP).
Relata-se o caso de paciente feminina, 29 anos, admitida em UTI de Florianópolis por insuficiência respiratória aguda após cinco dias de tosse, hemoptise, febre, dispneia e síncope. Apresentou também instabilidade hemodinâmica, sendo intubada e submetida à ventilação mecânica.
A angiotomografia de tórax inicial foi interpretada como TEP maciço à esquerda devido a importante assimetria vascular pulmonar (antes do laudo) , motivando trombólise com alteplase. Contudo, o laudo definitivo descartou TEP, evidenciando consolidações pulmonares em lóbulo médio e inferior com derrame pleural à direita e opacidades em vidro fosco à esquerda.
Na UTI, apesar de melhora hemodinâmica, persistiu a hipoxemia grave (PaO2/FiO2 < 100), necessitando de 6 sessões de pronação. Foram isolados Rinovírus e Staphylococcus aureus multissensível, tratados com antibioticoterapia (Ceftriaxona com Azitromicina, após Piperacilina Tazobactam) e corticoterapia. Mantinha hipoxemia (PaO2/FiO2 < 200), com padrão de shunt à direita e ventilação de espaço morto à esquerda, dificultando o desmame ventilatório. Na reavaliação radiológica por pneumologistas e radiologistas revelou hipoplasia da circulação pulmonar esquerda com vicariância à direita.
Após a estratégia de balanço hídrico negativo, evoluiu com melhora clínica e no 9º dia, foi extubada. A anamnese complementar revelou que seu filho tinha diagnóstico de ALGS e exames laboratoriais evidenciaram colestase na paciente, além que apresentava face triangular, hipertelorismo e baixa estatura, confirmando o diagnóstico sindrômico.
Este caso ilustra os desafios do manejo da hipoxemia em paciente jovem com doença rara, ressaltando a necessidade de ampliar o diagnóstico diferencial em quadros sugestivos de comprometimento da circulação pulmonar além do TEP. A ALGS pode simular TEP e requer investigação detalhada para evitar condutas potencialmente inadequadas.
Síndrome de Caplan - Um relato de caso
Ana Clara Flor da Costa (HU UFSC), Tatiane Muller Fabretti (Hospital Universitário UFSC), Pedro Henrique Albuquerque (Hospital Universitário UFSC), Leandro Marins (Hospital Universitário UFSC), Leila John Marques Steidle (Hospital Universitário UFSC), Manuela Felisbino Brisot (Hospital Universitário UFSC)
A Síndrome de Caplan (SC), caracterizada por nódulos e micronódulos pulmonares, é definida pela associação de silicose e artrite reumatoide (AR), e está associada à exposição à poeira do carvão ou a poeiras inorgânicas. Paciente masculino, 68 anos, trabalhou com vitrificação e tem AR desde 2018. AntiCCP positivo e fator reumatoide (FR) negativo. Desde 2021 com alterações radiológicas intersticiais e dispneia mMRC1. TC tórax: micronódulos perilinfáticos não típico de acometimento intersticial pela AR. Pletismografia: CVF 2,70 (67%); VEF1 2,10 (66%); VEF1/CVF 0,78; CPT 4,26 (71%); DLCO 14,0 (60%). Biópsia: parênquima pulmonar com macrófagos pigmentados e epitelioides, histiócitos com poeira mista à luz polarizada, células gigantes multinucleadas intraalveolares e agregado linfoide focal. Citologia do Lavado Broncoalveolar: 118 células (4% neutrófilos, 12% linfócitos, 83% macrófagos). Usou Prednisona e Metotrexate, e agora está com Abatacepte, com adequado controle da AR e estabilização das alterações pulmonares radiológicas, porém perdeu função pulmonar: CVF 2,60 (66%) e DLCO 12,2 (54,4%) devido manutenção da exposição à sílica. A exposição à poeira inorgânica está relacionada a doenças autoimunes. Na SC, macrófagos alveolares englobam sílica, e geram inflamação e ativação de fibroblastos, com liberação de citocinas (IL-1 e TNF-alfa). Antígenos são apresentados aos linfócitos TCD4, com geração de autoantígenos. Na pneumoconiose, a produção de autoanticorpos, complexos imunes e excesso de imunoglobulinas (incluindo o FR) está aumentada; e na SC, o anti-CCP está frequentemente presente. Com a estimulação do tecido linfoide, os nódulos pulmonares se desenvolvem. Os nódulos da SC têm necrose central circundada por poeira e necrose, com polimorfonucleares, macrófagos e células gigantes circundando os anéis de poeira. Radiologicamente, têm tamanho variável, distribuição craniocaudal, periférica e em terços médios. Desenvolvem-se em semanas a meses, com estabilização durante anos. Podem evoluir com cavitações, calcificações e fibrose maciça progressiva. Entre os diagnósticos diferenciais, há a tuberculose miliar, as infecções fúngicas, as metástases pulmonares, a sarcoidose e os nódulos reumatoides. O tratamento é direcionado ao controle da AR e à cessação da exposição. Alguns casos na literatura, mostraram resultados satisfatórios em relação à SC, com melhora das manifestações articulares da AR e estabilização dos nódulos pulmonares após início de imunobiológico.
Síndrome do desconforto respiratório agudo associado a tuberculose miliar - Relato de caso
Brenda Corrêa Pessoa, Estela Lechinhoski Camilo de Souza (Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE), Luana Gabriely de Almeida Campos (Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE), Matheus Luiz Kohler (Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE), Gabriel Volpato (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt – Residência em Clínica Médica), Marcus Vinícius Teodoro Júnior (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt), Fabiano Luis Schwingel (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt)
Introdução: A tuberculose pulmonar manifesta-se de forma parenquimatosa ou intraparenquimatosa. Evidências sugerem maior associação da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) com a tuberculose miliar, em comparação às formas parenquimatosas, devido à disseminação de bacilos na circulação pulmonar. Todavia, a patogênese da SDRA associada à tuberculose é pouco esclarecida e sua ocorrência é incomum. Objetivo: Abordar e discutir o processo diagnóstico e manejo da SDRA por tuberculose miliar. Relato de caso: Paciente feminina, 35 anos, gestante de 33 semanas, deu entrada no pronto socorro com um quadro de cefaleia frontal e orbital de início há 7 dias, mialgia, febre e dispneia, evoluindo com necessidade progressiva de oxigênio. A tomografia computadorizada (TC) de tórax apresentou opacidades em vidro fosco bilateral, teste de COVID e NS1 negativos, PCR elevado e sódio sérico baixo. Paciente admitida, foi prescrito claritromicina, unasyn e oseltamivir e intubação orotraqueal. Após urocultura e hemocultura negativas foi suspenso o Oseltamivir. Paciente evoluiu com piora ventilatória cinco dias depois, resultando em uma cesária de urgência. Foi iniciado tazocin por piora ventilatória e febre, e após dois dias foi associado a vancomicina e ECMO veno-venosa. Em seguida, ocorreu a troca do antibiótico para meropenem e amicacina e indicado RIPE por suspeita de tuberculose miliar. PCR TB LACEN detectável. Após 10 dias de início da ECMO foi feita a decanulação, desligado o BNM e realizado o PCR para CMV, que negativou. Paciente evoluiu com necessidade de traqueostomia, e rebaixamento sensório com achados sugestivos de edema vasogênico na TC de crânio. Após um mês, houve o desmame ventilatório. Devido a hepatotoxicidade foi prescrito rifampicina/etambutol e levofloxacino, com redução de edema em exame. Suspendeu rifampicina por alterações hepáticas, reintroduzindo-a sete dias depois. Retirou traqueostomia e alta após estabilidade do quadro. Resultados: O caso ilustra a apresentação atípica e gravidade da tuberculose associada à SDRA, destacando dificuldade diagnóstica diante de sinais inespecíficos e sobreposição de outras infecções. A confirmação reforça a importância de investigação etiológica abrangente em SDRA refratária. Demonstra a relevância do início precoce de terapia específica, monitorização de hepatotoxicidade e alterações neurológicas. Conclusão: Logo, observa-se que o diagnóstico precoce pode influenciar no prognóstico e eficácia do tratamento.
Síndrome do Pulmão Encolhido associado ao Lúpus Eritematoso Sistêmico: Relato de caso
Raissa Martins da Silva, Ana Clara Flor da Costa (Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago), Pedro Henrique Albuquerque da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Fernando de Souza Santos (Universidade Federal de Santa Catarina), Diego César Dias de Sousa (Universidade Federal de Santa Catarina), Manuela Brisot Felisbino (Universidade Federal de Santa Catarina), Leila John Marques Steidle (Universidade Federal de Santa Catarina)
Introdução: A Síndrome do Pulmão Encolhido (SPE) ocorre em cerca de 1 a 5% dos pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). É caracterizada por dispneia, dor pleurítica e redução acentuada dos volumes pulmonares na ausência de doença intersticial ou pleural confirmada pela tomografia. A fisiopatologia pode envolver disfunção diafragmática por miopatia/miosite ou inflamação pleural crônica com aderências e menor complacência pulmonar. Relato de caso: Feminina, 31 anos, operadora de caixa, portadora de LES (diagnosticado há 5 anos com anemia hemolítica, linfopenia, plaquetopenia, artrite e alopecia), FAN nuclear pontilhado grosso (>1/640), Anti-RNP+, Anti-Sm+, Anti-DNA+, com síndrome antifosfolípide associada (LAC+, ACL+ e β2-glicoproteína IgM/IgG+). Histórico de tromboembolismo pulmonar (out/23 e jan/24) e acidente vascular cerebral hemorrágico (ago/24) sem sequelas. Angiotomografia de julho de 2024 - sem falhas de enchimento, sem alterações intersticiais ou pleurais. Ecocardiograma sem sinais de hipertensão pulmonar. Em nov/24 foi encaminhada à pneumologia por dispneia aos mínimos esforços (mMRC 3) de progressão há um mês. A TCAR de set/24 demonstrou atelectasias subsegmentares em lobo médio, língula e lobos inferiores. A espirometria de nov/24 evidenciou um padrão restritivo acentuado, associado a redução muito acentuada da DLCO, confirmados com pletismografia: CVF: 1,32 (35%) / VEF1: 1,11 (35%) / Rel: 0,84 - 0,87 / CPT:2,15 (42%) / VR: 0,82 (61%) / DLCO: 8,4 (39%). Em uso de hidroxicloroquina 400mg, azatioprina 100 mg, prednisona 5mg e fisioterapia respiratória; aguardando início de rituximabe. Em fev/25: CVF 1,65 (44%). A dose de azatioprina foi aumentada para 200mg, devido a dispneia ainda inalterada. Em maio/25 a dose de azatioprina foi ajustada para 250mg. Houve aumento progressivo da CVF de 1,32 L (35%) em nov/24 para 2,02 L (54%) em ago/25. Na última avaliação de ago/25, a paciente relatou melhora significativa da dispneia (mMRC 1/2). Discussão: Trata-se de um caso de SPE em mulher jovem com 5 anos de diagnóstico, restrição pulmonar acentuada e DLCO muito reduzida, que apresentou melhora clínica e funcional progressiva após escalonamento da imunossupressão e fisioterapia respiratória, embora ainda aguarde o rituximabe. O caso foi discutido em reunião multidisciplinar e os diagnósticos diferenciais (infecção, intersticiopatia, derrame pleural) foram afastados. O caso reforça suspeitar de SPE em pacientes com LES e padrões restritivos graves.
Sono e função pulmonar em escolares com fibrose cística após terapia com modulador genético: um estudo piloto.
Marcele Letícia dos Santos Vieira, Juliana Cardoso (UDESC CEFID), Thaise Helena Cadorin (UDESC CEFID), Camila Isabel Santos Schivinski (UDESC CEFID)
Introdução: em doenças crônicas pediátricas, como a fibrose cística (FC), pesquisas têm sido conduzidas demonstrando que alterações no sono estão associadas ao declínio da função respiratória. Objetivo: avaliar a relação entre a qualidade do sono e a função pulmonar em escolares com FC após início de terapia com modulador genético (TMG). Método: estudo piloto observacional transversal (CAAE nº 80800217.4.0000.5361), incluiu escolares com FC - clinicamente estáveis - com idades entre 6 a 12 anos. O estudo foi conduzido em um centro de referência da doença. A amostra foi dividida em dois grupos: com propensão para distúrbios do sono (SDS) e com distúrbios do sono (CDS), de acordo com a Escala de Distúrbios de Sono em Crianças, sendo pontuação >39. Dados de antropometria e TMG foram coletados durante anamnese; genótipo e presença de patógenos em prontuário. Para garantir a ausência de exacerbação pulmonar aguda (EPA), utilizou-se ponto de corte de 25 pontos no CFCS e de 4 pontos no CFFS. Utilizou-se a espirometria para avaliação da função pulmonar, e considerou-se os valores absolutos e porcentagem do predito (%pred) dos parâmetros de VEF1, CVF, FEF25-75 e PFE. Utilizou-se o Software SPSS® para análise dos dados, apresentados em estatística descritiva e de frequências. Aplicou-se testes estatísticos de Shapiro-Wilk e Spearman, e adotou-se α = 5% para todos os testes. Resultados: participaram 22 escolares, 6 CDS e 16 SDS, tendo como características (SDS x CDS, respectivamente): 54% meninas, com média de idade 9,7±1,5 anos x 50% meninas e média de idade 9,83±1,83 anos. Todos em estabilidade clínica (CFCS:14±2,89 pontos x 13,67±1,96 pontos e CFFS: 0,19±0,40 pontos x 0,33±0,51 pontos), No SDS IMC 17,88±2,87 kg/m², sendo 75% eutróficos, CDS 17,17±3,06 kg/m², sendo 83,3% eutróficos. A mutação genética 37,5% x 83,3% foram F508 homozigoto e 62,5% x 16,7% de F508 heterozigoto. O tempo médio de TMG foi de 12,47±2,99 meses x 12,75±3,77 meses. Na análise da correlação, observou-se somente associação forte entre presença DDS com VEF1/CVF% (p<0,05). Não houve correlação para as outras variáveis analisadas. Conclusão: houve associação entre a presença DDS e o parâmetro espirométrico de VEF1/CVF%. O grupo SDS não apresentou relação entre as variáveis analisadas.
Transplante Pulmonar em HAP no Brasil: Necessidade x Oferta. Estamos Progredindo?
Ilma Nascimento (USP - Universidade de São Paulo), Rodrigo Torres Scabello (Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas HCFMUSP, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, BR), Carla Rios Cruz (Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas HCFMUSP, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, BR), Caio Júlio César dos Santos Fernandes (Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas HCFMUSP, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, BR)
Introdução:
A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é condição crônica, progressiva e incurável, associada a mortalidade elevada. As terapias atuais atuam em três vias fisiopatológicas (endotelina, óxido nítrico e prostaciclina), e o transplante pulmonar é indicado em casos avançados. No entanto sua complexidade é alta e sua disponibilidade bastante restrita. No Brasil, há um descompasso entre a necessidade e a oferta de transplantes, em contraste com países de alta renda.
Objetivo:
Comparar a mortalidade por HAP e o número de transplantes pulmonares por HAP no Brasil e no Reino Unido entre 2013 e 2023.
Métodos:
Foram analisados dados públicos nacionais de mortalidade por HAP e transplantes. Assumiu-se, conforme o registro da International Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT), que 5% dos transplantes de pulmão foram realizados em pacientes com HAP, em ambos os cenários.
Resultados:
No Brasil, os transplantes variaram de 61 a 109 por ano no período estudado, com taxa de 0,67 por 100.000 habitantes em 2023. As mortes passaram de 1.022 para 1.410, mantendo a relação de um transplante para cada 12 a 17 óbitos.
No Reino Unido, os transplantes variaram de 100 a 160 por ano, com taxas de 0,81 a 0,96 por 100.000 habitantes. As mortes passaram de 519 para 654, com relação de um transplante para cada 4 a 5 óbitos.
Enquanto ambos os países apresentaram aumento de óbitos por HAP, apenas o Reino Unido expandiu os transplantes em ritmo suficiente para reduzir a razão morte/transplante. No Brasil, a relação permaneceu estável.
Conclusão:
Apesar do crescimento no número de transplantes na última década, o Brasil apresenta de forma persistente uma razão morte/transplante mais elevada em comparação ao Reino Unido, evidenciando disparidades no acesso a terapias avançadas e programas de transplante. Em contextos de menor renda, onde o acesso ao transplante é restrito e não houve incremento na relação transplante/morte — denotando ausência de progresso na eficiência do sistema — talvez o foco da melhoria não deva recair exclusivamente sobre o aprimoramento da rede de transplantes. Uma estratégia promissora pode estar na ampliação do acesso ao tratamento da HAP com otimização do uso de terapia combinada tripla e o acréscimo de uma quarta via para reduzir tanto a mortalidade quanto o tempo de espera e o número de pacientes nas filas de transplante, diminuindo a sobrecarga de um sistema esgotado.
Tumor Miofibroblástico Inflamatório Pulmonar - um tumor raro com uma apresentação atípica: Relato de caso
Pedro Henrique Ronchi Dal Toé (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Alessandra Brodt Venturini (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Júlia Martins Righi (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Ricardo Jappe Bochi Dorneles (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Laura Weber Luca (Hospital Nossa Senhora da Conceição)
Introdução: O tumor miofibroblástico inflamatório (TMI) pulmonar é uma neoplasia rara de malignidade intermediária que predomina em jovens. Sua origem permanece incerta, com possíveis relações com inflamação crônica, infecções ou disrupções genéticas. Na imagem, tipicamente aparece como massa ou nódulo pulmonar solitário. Clinicamente, manifesta-se de forma inespecífica: tosse, dor torácica, febre e até sintomas sistêmicos. O diagnóstico definitivo depende de biópsia com avaliação histopatológica e estudo genômico. O tratamento de escolha continua sendo a ressecção completa, com baixas taxas de recidiva. Objetivo: Relatar um caso raro de TMI em um hospital de Porto Alegre – RS. Relato de caso: Paciente masculino, 71 anos, ex-tabagista há 20 anos, hipertenso, encaminhado para consulta com cirurgia torácica de urgência por lesão hilar à direita, após um primeiro atendimento na atenção primária por dispneia há 3 meses, tosse e um episódio de hemoptise. Antes da internação eletiva para investigação diagnóstica, paciente interna por pneumonia obstrutiva em um hospital de referência em Porto Alegre - RS. Após 14 dias de antibiótico, realizado três biópsias por fibrobroncoscopia em momentos diferentes, todas com anatomopatológico (AP) e imuno-histoquímica (IHQ) com resultado inconclusivo. Após nova internação posterior, realizado biópsia por broncoscopia rígida, com resultado de IHQ compatível com proliferação fibroblástica associada a discreta reação inflamatória crônica (sugestivo de tumor miofibroblástico inflamatório do pulmão). Discussão: Este caso representa uma apresentação atípica de TMI pulmonar, tanto pela faixa etária quanto pela localização da lesão. O paciente tem 71 anos, contrastando com o perfil epidemiológico típico. Além disso, o tumor apresenta crescimento endobrônquico, uma forma rara de manifestação, descrita em menos de 5% dos casos de TMI pulmonar. Outro aspecto relevante é a limitação terapêutica imposta pela condição clínica do paciente: devido à função pulmonar significativamente comprometida, a ressecção cirúrgica — tratamento padrão — não pôde ser realizada, exigindo abordagem individualizada e multidisciplinar. Conclusão: Este caso destaca a importância de considerar o TMI no diagnóstico diferencial de lesões pulmonares atípicas, mesmo em pacientes idosos. Sua apresentação rara e limitações terapêuticas reforçam a necessidade de abordagem individualizada e maior reconhecimento dessa entidade.
Vasculite de pequenos vasos pauci-imune com envolvimento pulmonar crítico em hospital terciário
Beatryz Eyng dos Santos, Fabiano Luis Schwingel (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt), Ana Clara Guimarães Justo Pereira (Universidade Univille), Betina Doubrawa Kretzer (Universidade Univille), Laura Menegol Ayzemberg (Universidade Univille), Gabriel Volpato (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt), Nicolas Willian Galdino (Hospital Regional Hans Dieter Schmidt)
A vasculite de pequenos vasos pauci-imune é uma condição inflamatória sistêmica rara, que pode cursar com manifestações multissistêmicas graves, como hemorragia alveolar.
Relatamos o caso de um paciente masculino, 23 anos, previamente hígido, com episódios recorrentes de hemoptise e dispneia. O objetivo é descrever a apresentação clínica e a resposta terapêutica de provável poliangeíte microscópica, destacando a importância do reconhecimento precoce da vasculite como diagnóstico diferencial em pacientes com hemorragia alveolar
O paciente iniciou dispneia aos pequenos esforços em dezembro de 2022, sem febre ou perda ponderal. Evoluiu com hemoptise em junho de 2023, sendo admitido com saturação preservada e leucocitose. Tomografias de tórax evidenciaram espessamento septal e peribrônquico, hemorragia alveolar e derrame pleural laminar. A fundoscopia revelou hemorragias retinianas bilaterais. Exames laboratoriais revelaram leucocitose, elevação de DHL e complemento C4, proteinúria de 315 mg/24h e sorologias autoimunes negativas (ANCA, FAN, anti-DNA). A broncoscopia confirmou sangramento ativo no brônquio lobar superior esquerdo, com lavado broncoalveolar compatível com hemorragia alveolar. A biópsia de pele evidenciou apenas alterações inflamatórias em resolução.
Foi iniciado pulsoterapia com metilprednisolona, seguida de imunossupressão com
ciclofosfamida endovenosa. O paciente apresentou melhora clínica, com remissão da
hemoptise e resolução das alterações tomográficas. Manteve-se corticoterapia oral, em desmame progressivo, além de acompanhamento conjunto com pneumologia, reumatologia e oftalmologia. A principal complicação foi síndrome de Cushing secundária ao uso prolongado de corticosteroide.
Concluímos que a vasculite de pequenos vasos deve ser considerada no diagnóstico
diferencial da hemoptise inexplicada, especialmente em adultos jovens com sintomas
sistêmicos. A instituição precoce de imunossupressão pode ser determinante para evitar complicações irreversíveis.




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